ATA DA SÉTIMA REUNIÃO ORDINÁRIA DA QUINTA COMISSÃO REPRESENTATIVA DA NONA LEGISLATURA, EM 11.03.1987.

 


Aos onze dias do mês de março do ano de mil novecentos e oitenta e sete, reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Sétima Reunião Ordinária da Quinta Comissão Representativa da Nona Legislatura. Às nove horas e trinta e cinco minutos foi realizada a segunda chamada, sendo respondida pelos Vereadores Antonio Hohlfeldt, Auro Campani, Brochado da Rocha, Cleom Guatimozim, Clóvis Brum, Frederico Barbosa, Gladis Mantelli, Hermes Dutra, Isaac Ainhorn, Jorge Goularte, Jussara Cony e Luiz Braz, Titulares e Adão Eliseu, André Forster, Aranha Filho, Kenny Braga, Getúlio Brizolla, Ignácio Neis e Wilson Santos, Não-Titulares. Constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e determinou ao Ver. Hermes Dutra que procedesse à leitura de trecho da Bíblia. A seguir, o Sr. Secretário procedeu à leitura da Ata da Sexta Reunião Ordinária que, juntamente com a Ata da Quinta Reunião Ordinária, foi aprovada. À MESA foram apresentados: pelo Ver. Adão Eliseu, 01 Pedindo de Providências, solicitando limpeza, capina e melhorias na Praça Darci Azambuja, localizada junto à Rua Dr. Félix Contreiras Rodrigues; pelo Ver. Brochado da Rocha, 01 Projeto de Resolução n° 02/87 (proc. n° 363/87), que concede o título honorífico de Cidadão Emérito a Cândido Montenegro; pelo Ver. Cleom Guatimozim, 03 Pedidos de Providências, solicitando patrolagem na entrada da Rua Sargento Manoel Arruda, com a Av. Protásio Alves; patrolagem da Rua Clarinda Antunes da Silva Bueno e da Rua Soldado José da Silva, a partir do n° 235 até o final; religamento da iluminação pública da Rua Jacob Vontobel; pelo Ver. Hermes Dutra, 01 Projeto de Resolução n° 03/87 (proc. n° 438/87), que concede o título honorífico de Cidadão Emérito ao Sr. Manoel dos Santos Martins. DO EXPEDIENTE constaram: Ofícios nºs 30/87, da Câmara Municipal de São Luís; 15/87, do Deputado Lourenço Pires; 100/87, do Adm. Herony da Assunção Jaques; s/nº, da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo; da Câmara Municipal de São Borja; do Deputado Constantino Picarelli; Cartões da Câmara Municipal de Boa Vista; da Câmara Municipal de Soledade; do Deputado Solon Tavares; Telex do Ministro da Indústria e Comércio, Ilmo. Sr. José Hugo Castelo Branco; do Chefe do Gabinete do Ministro da Cultura, Sr. Angelo Oswaldo de Araújo Soares. A seguir, constatada a existência de “quorum”, foi iniciada a ORDEM DO DIA. Em Discussão Geral e Votação foram aprovados os Pedidos de Autorização n°s 23/86; 03; 01/87; as Indicações n°s 02/87, discutida pelo Ver. Antonio Hohlfeldt; 96/86, discutida pelos Vereadores Antonio Hohlfeldt e Isaac Ainhorn. Em Discussão Geral e Votação esteve a Indicação n° 03/87, discutida pelo Ver. Antonio Hohlfeldt, que foi retirada nos termos do art. 146 do Regimento Interno, e Requerimento, aprovado do Ver. Cleom Guatimozim, discutido pelo Ver. Adão Eliseu. Ainda, foram aprovado os seguintes Requerimentos: do Ver. Antonio Hohlfeldt, de voto de Congratulações com a Editora O Chimarrão Ltda., pelo lançamento do jornal O Chimarrão; do Ver. Aranha Filho, de Voto de Pesar pelo falecimento da Sr.ª Dora de Lima Back; do Ver. Frederico Barbosa, de Voto de Congratulações com o Dr. Paulo Odonne Araújo Ribeiro, por sua eleição e posse na Presidência do Grêmio Foot-Ball Porto-Alegrense, encaminhado à votação pelo Autor; do Ver. Hermes Dutra, de Voto de Congratulações com a Companhia Riograndenese de Telecomunicações – CRT, pelo transcurso do 25º aniversário de serviços prestados à comunidade porto-alegrense, encaminhado à votação pelos Vereadores Hermes Dutra, Clóvis Brum e Antonio Hohlfeldt; do Ver. Jorge Goularte, de Votos de Congratulações com o Dr. Odacir Klein e o Dr. Wilson Vargas, por terem sido escolhidos pelo Governador Pedro Simon, respectivamente, para Presidentes do Banrisul e da Caixa Econômica Estadual; com o Dr. Ladislau Fernando Ronhelt, por ter sido escolhido pelo Governador Pedro Simon para Chefe da Casa Civil; com os Secretários escolhidos pelo Governador Pedro Simon para assessorá-lo, conforme relação enviada anexa ao Requerimento. Em COMUNICAÇÕES, o Ver. Hermes Dutra analisou a atual política do Governo Federal em relação ao imposto de renda, criticando a mesma. O Ver. Antonio Hohlfeldt declarou seu apoio à classe dos municipários em sua luta por melhorias salariais, destacando que o aumento proposto pelo Prefeito Alceu Collares se encontra defasado frente ao elevado custo de vida da Capital. O Ver. Clóvis Brum teceu críticas à administração do INAMPS no Estado, destacando uma série de irregularidades apresentadas por órgãos desta Entidade, em especial no que tange ao Grupo Hospitalar Conceição. O Ver. Jorge Goularte defendeu a conduta das Forças Armadas que, a pedido da Presidência da República, intervieram de forma pacífica na greve dos marítimos a fim de garantir a segurança das refinarias de petróleo brasileiras. A Ver.ª Jussara Cony criticou a atuação das Forças Armadas Brasileiras no episódio da greve dos marítimos e na intervenção nas refinarias de petróleo brasileiras. Salientou a importância de participação do Povo na Assembléia Constituinte. Em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, o Ver. Antonio Hohlfeldt destacou a necessidade de extinção das Forças Armadas Brasileiras e a criação de um Ministério de Defesa, a exemplo do que já vem ocorrendo em outros países. Criticou a atuação repressora das Forças Armadas no episódio da greve dos marítimos do País. Ainda em COMUNICAÇÕES, o Ver. Frederico Barbosa teceu críticas à administração do Prefeito Alceu Colares e destacou a falta de comunicação existente entre o Executivo Municipal e esta Casa. Atentou para a importância de uma coordenadoria política entre o Executivo e o Legislativo de Porto Alegre. Ainda em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, o Ver. Jorge Goularte, reportando-se ao pronunciamento, de hoje, da Ver.ª Jussara Conny, acerca da atuação das Forças Armadas na greve dos marítimos, destacou que esta instituição cumpriu seu papel ao acatar as ordens do Presidente da República, analisando o assunto. Ainda em COMUNICAÇÕES, o Ver. Luiz Braz analisou a atual situação política nacional, enfatizando a importância do trabalho conjunto de toda a classe política a fim de que seja alcançada a real democracia no País. Durante os trabalhos, o Sr. Presidente comunicou que a Sessão de Instalação da Quinta Sessão Legislativa Ordinária será realizada dia quinze de março, às nove horas e trinta minutos. Nada mais havendo a tratar, o Sr. Presidente levantou os trabalhos às doze horas e quarenta minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Reunião Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Brochado da Rocha, Luiz Braz, Gladis Mantelli, Frederico Barbosa e Cleom Guatimozim, o último nos termos do art.11, § 3° do Regimento Interno, e secretariados pelos Vereadores Gladis Mantelli, Frederico Barbosa, Jorge Goularte e Clóvis Brum, os dois últimos como Secretários “ad hoc”. Do que eu, Gladis Mantelli, 1ª Secretária, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelo Sr. Presidente e por mim.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Brochado da Rocha): Havendo número legal, declarado abertos os trabalhos da presente Reunião.

Solicito ao Sr. Hermes Dutra que proceda à leitura de trecho da Bíblia.

 

O SR. HERMES DUTRA: (Lê.)

“Um príncipe destituído de inteligência, multiplica as exações, porém, quem odeia a rapina prolonga a própria vida.

Um homem oprimido pôr delitos de sangue corre ao sepulcro: ninguém o socorre.”

 

O SR. PRESIDENTE: A Sr.ª 1ª Secretária procederá à leitura da Ata da Reunião anterior.

 

(A Sr.ª 1ª Secretária lê.)

 

O SR. PRESIDENTE: Em votação as Atas da 5ª e da 6ª Reunião Ordinária. (Pausa.) Os Srs. Vereadores que as aprovam permaneçam sentados. (Pausa.) APROVADAS.

A Sr.ª 1ª Secretária dará conhecimento ao Plenário das proposições encaminhadas à Mesa, hoje, pelos Srs. Vereadores.

 

A SRA. 1ª SECRETÁRIA: À Mesa foram encaminhadas proposições pelos Srs. Vereadores (passando a ler): Adão Eliseu (1), Brochado da Rocha (1), Cleom Guatimozim (3) e Hermes Dutra (1).

É só Sr. Presidente.

 

O SR. PRESIDENTE: O ementário do Expediente está distribuído em avulsos.

A seguir, havendo “quorum”, passamos à

 

ORDEM DO DIA

 

DISCUSSÃO GERAL E VOTAÇÃO

 

PROC. N° 2656/86 – PEDIDO DE AUTORIZAÇÃO N° 23/86, do Executivo Municipal, propondo convênio entre o Município e a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, através da Faculdade de Educação, para o desenvolvimento de programas de estágio de complementação educacional e formação educacional.

 

Parecer:

- da CR. Relator, Ver. Frederico Barbosa: pela aprovação.

 

O SR. PRESIDENTE: Em discussão. (Pausa.) Em votação. (Pausa.) Os Srs. Vereadores que aprovam o Pedido de Autorização n° 23/86 permaneçam sentados. (Pausa.) APROVADO.

 

PROC. Nº 415/87 – PEDIDO DE AUTORIZAÇÃO Nº 03/87, do Executivo Municipal, propondo Termo de Aditamento ao Contrato de Empreitada celebrado entre o Município de Porto Alegre e a firma Scorza Engenharia Ltda.

 

Parecer:

- da 5ª CR. Relatora, Ver.ª Gladis Mantelli: pela aprovação.

 

O SR. PRESIDENTE: Em discussão. (Pausa.) Em votação (Pausa.) Os Srs. Vereadores que aprovam o Pedido de Autorização nº 03/87 permaneçam sentados. (Pausa.) APROVADO.

 

PROC. N° 0342/87 – INDICAÇÃO Nº 02/87, de autoria do Ver. Pedro Ruas, que sugere ao Exmo. Sr. Governador do Estado do RGS providências junto à Brigada Militar para que, nos fins de semana, haja um patrulhamento ostensivo na Vila do IAPI, principalmente nas vias de acesso entre o Sindicato do Fumo, Esporte Clube São José e Av. Brasiliano Índio de Moraes.

 

Parecer:

- da 5ª CR. Relator, Ver. Cleom Guatimozim: pela aprovação.

 

O SR. PRESIDENTE: Em discussão. Para discutir, com a palavra o Ver. Antonio Hohlfeldt.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, a Indicação do nobre Ver. Pedro Ruas toca num problema que, na verdade, é antigo na Vila IAPI: são queixas permanentes dos moradores dos arredores da sede social do Sindicato e do Esporte Clube São José, que têm a sua vida infernizada, tradicionalmente, a cada fim de semana, nos sábados e domingos, por festas, bailes e reuniões-dançantes que se realizam naqueles locais nesses dois dias da semana e cuja saída, pela madrugada, normalmente é feita com uma alaúza absoluta pelos freqüentadores de tais festas, que se deslocam quase sempre a pé, ou permanecem nas imediações dessas duas entidades duas entidades aos gritos e berros, incomodando aquele cidadão que, durante a semana, trabalhou e que não tem como recuperar o seu sono a não ser durante a noite.

Parece-me, no entanto, que a solução levantada pelo nobre Ver. Pedro Ruas, de pedir um policiamento ostensivo, não é de fato, a melhor solução. Parece-me que, antes da solução policial, que sempre pode redundar na agressão e na violência também contra os freqüentadores  destas festas, também se deveria tomar outra providência que está diretamente vinculada à SMIC, do Secretário Nereu D’Ávila. Já me ocupei deste problema meses atrás; estive, inclusive, na 9ª e na 11ª Delegacia conversando com os titulares e, de modo geral, o comentário que ouvi dos Srs. Delegados de Polícia é de que, no tempo em que a permissão para tais festas e tais bailes se dava junto à polícia, a própria polícia tomava as providências e fazia o policiamento preventivo. Como estes licenciamentos passaram para a Prefeitura Municipal, para a SMIC, e a SMIC é absolutamente ausente na realização destas festas, a conseqüência que temos é que, na verdade, as entidades que realizam bailes, festas, reuniões-dançantes ficam desobrigadas de prestarem qualquer esclarecimento a qualquer autoridade pública. Por quê? Porque foi retirado da polícia, foi entregue à SMIC, mas a SMIC nada faz: não participa, não controla, inclusive, a concessão do alvará e o controle para se saber se o alvará está sendo devidamente cumprido ou não.

Embora nada tendo a objetar à Indicação como tal, gostaria de aqui fazer um apelo à SMIC, a quem está afeto o controle dessas peças, desses salões, dessas entidades, para que coloque seus fiscais em ação, ao menos durante alguns fins de semana, para controlar essas festas, esses bailes. Talvez, através destas medidas, possamos melhorar o convívio e a participação das pessoas. É evidente que ninguém se coloca contra a realização das festas. Agora, parece que deve haver uma adequação entre o interesse do cidadão que mora perto e do que freqüenta as festas. E deve-se saber se o Esporte Clube São José pode realizar suas promoções. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Encerrada a discussão. Em votação a Ind. nº 02/87. (Pausa.) Os Srs. Vereadores que a aprovam permaneçam sentados. (Pausa.) APROVADA.

 

PROC. Nº 152/87 – PEDIDO DE AUTORIZAÇÃO Nº 01/87, do Executivo Municipal, propondo o Convênio entre o Município de Porto Alegre e a Secretaria-Geral do Ministério da Saúde, com a interveniência do Instituto de Planejamento Econômico e Social, visando a Execução do Projeto “Organização dos Serviços de Saúde a partir da vigilância e controle da mortalidade infantil no Município de Porto Alegre – RS – Brasil”.

 

Parecer:

- da 5ª CR. Relator Ver. Frederico Barbosa: pela aprovação.

 

O SR. PRESIDENTE: Em discussão. (Pausa.) Em votação. (Pausa.) Os Srs. Vereadores que aprovam o Pedido de Autorização nº 01/87 permaneçam sentados. (Pausa.) APROVADO.

 

PROC. Nº 2021/86 – INDICAÇÃO Nº 96/86, de autoria do Ver. Isaac Ainhorn, que sugere ao Exmo. Sr. Presidente da República sejam tomadas medidas, por parte do Ministério da Justiça, no sentido de averiguar denúncias de funcionários das Lojas Americanas S/A, da existências de fatos que, se verdadeiros, caracterizam ilícito penal, capitulados como crime contra a organização do trabalho.

 

Parecer:

- da 5ª CR. Relator, Ver. Lauro Hagemann: pela aprovação.

 

O SR. PRESIDENTE: Em discussão a Indicação nº 96/86. (Pausa.) Para discutir, com a palavra, o Ver. Antonio Hohlfeldt.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, em primeiro lugar, quero deixar bem claro meu apoio à Indicação do nobre Ver. Isaac Ainhorn, chamado apenas a atenção dos meus pares para a demora na tramitação de um processo tão importante como esse, lastimando essa demora. Acho que o fato de estarmos discutindo hoje uma matéria relativa a fatos ocorridos há mais de seis meses bem demonstra a relatividade do Poder Legislativo e o quão pouco ainda podemos intervir em processos sociais como o das Lojas Americanas.

Em segundo lugar, embora apoiando, e portanto votando favoravelmente à Indicação do nobre Ver. Isaac Ainhorn, quero expressar minha dúvida quanto ao sucesso de qualquer Indicação dirigida ao Min. Paulo Brossard e que venha em defesa de trabalhadores. Basta vermos o tratamento distinto que o Sr. Ministro da Justiça deu, por exemplo, ao movimento dos marítimos, em pleno desenvolvimento, e ao movimento dos donos de postos de gasolina, o “lock out” dos donos de postos de gasolina. Aos marítimos, a forma da lei, com a intervenção do Exército e da Marinha; aos donos dos postos, ameaças pró-forma e, afinal de contas, a capitulação, logo no segundo dia de movimento. O mesmo também se observa, por exemplo, em relação ao que ocorreu no dia de ontem no movimento dos agricultores, que de agricultores têm muito pouco e muito de latifundiários. Evidentemente que, como bom latifundiário, o Sr. Ministro Paulo Brassard igualmente se manteve distante dos acontecimentos. Sequer a Polícia Federal, sequer aquela polícia que age nas estradas para garantir a locomoção e que, por exemplo, enfrentou o movimento dos caminhoneiros no ano passado, sequer ela foi acionada no dia de ontem para enfrentar o movimento dos produtores agrícolas. Não entro no mérito do movimento, mas é curioso que esse movimento tenha sido chefiado pelo Presidente da UDR, este homem que é da extrema direita, este homem e seu movimento que são claramente desafiadores de uma estrutura democrática. E é bom lembrar o episódio do ano passado, do gado vivo, do desaparecimento desse gado para venda aos frigoríficos. A este movimento o Ministro Paulo Brossard faz “ouvidos de mercador”. Eu não duvidaria se, de repente, víssemos a Polícia Federal atuando em apoio a este movimento, porque hoje as posições do Ministro Paulo Brossard são muito claras e bem definidas, infelizmente para o Brasil. Portanto, neste sentido o meu registro, apoiando a dedicação do Ver. Isaac Ainhorn. Acredito que ela não terá tramitação no Ministério da Justiça, porque, de há muito, a balança da eqüidade deste Ministério deixou de existir e pendeu, declaradamente, para um lado. E este lado não é o lado dos trabalhadores.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Isaac Ainhorn para discutir.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, falarei a propósito da Indicação por mim feita, dirigida ao Ministério da Justiça, solicitando providências no sentido de averiguar fatos delituosos que incorreriam em sanções penais pôr crimes contra a organização do trabalho, perpetrados pela Diretoria das Lojas Americanas S.A.

Como é do conhecimento público, e bem enfocou o Ver. Antonio Hohlfeldt, este fato ocorreu há cerca de seis meses, em Porto Alegre, e ensejou uma greve por parte dos funcionários das Lojas Americanas. Este fato merece, pelo menos, o encaminhamento pôr parte desta Casa, face às denúncias havidas, para que o Ministério da Justiça, através do seu setor competente tome as providências cabíveis, pois, segundo nos consta, embora tenha havido aquela greve, ainda alguns fatos desta natureza continuam ocorrendo nas Lojas Americanas, e também em outras lojas sobretudo estas lojas que se constituem em grandes conglomerados e magazines com estrutura nas diversas capitais brasileiras.

Há poucos dias, o jornal do Sindicato dos Comerciários de nossa Cidade denunciava a situação constrangedora em que se encontravam as funcionárias das Lojas Marisa, submetidas a exames dos mais diversos, inclusive obrigadas a trabalharem com os bolsos de suas calças costurados para que a empresa tivesse certeza de que nenhum bem seu seria subtraído. Isso, realmente, é uma situação vexatória. É uma situação de constrangimento a que são levadas essas mulheres que trabalham nessas empresas. Esses fatos foram denunciados no último Jornal do Sindicato dos Comerciários da Cidade de Porto estão exatamente ligados a estas denúncias formuladas pelos funcionários das Lojas Americanas. Se pararem no Ministério da Justiça, ao menos fica documentado que esta Casa não foi omissa e cumpriu com as suas tarefas, que esta Casa foi diligente no sentido de denunciar fatos irregulares de denunciar fatos irregulares e de natureza delituosa que vêm ocorrendo em empresas que operam em Porto Alegre.

Agora, temos também nossas sérias dúvidas de que o Ministério da Justiça vá tomar as providências necessárias. Até acredito que, pela formação jurídica do Ministro da Justiça, Dr. Paulo Brossard, e pelo rigorismo com que respeita a Lei, que sempre foi sua característica, ele, evidentemente, frente à comunicação por parte de uma Casa com a responsabilidade como esta, ele tomará as providências para que o órgão competente do Ministério da Justiça faça uma averiguação se vem ocorrendo ainda, ou não, esses fatos de natureza penal nas Lojas Americanas. Até porque, se ocorreram e não vêm ocorrendo mais, nem por isso ainda prescreveu o crime, porque se ocorreram, há mais de seis meses atrás, isso ainda é passível de uma ação penal, porque o crime foi perpetrado. Se não vêm ocorrendo mais, melhor, mas isso não quer dizer que o crime possa passar impune. O crime ocorreu. Os crimes contra a organização do trabalho, nas Lojas Americanas, foram denunciados pelos funcionários e foram constatados. Ocorreram esses crimes e os crimes ainda não estão prescritos, razão pela qual o Ministério da Justiça deve abrir, através do setor competente, um inquérito policial para averiguar esses crimes que se referem à Indicação por mim formulada.

 

A Sr.ª Jussara Cony: V. Ex.ª permite um aparte? (Assentimento do orador.) O meu aparte, Vereador, é no sentido de dar total apoio à Indicação de V. Ex.ª, até porque tivemos a oportunidade de participar juntos com as funcionárias das Lojas Americanas, dando sustentação política àquelas companheiras trabalhadoras que enfrentavam, naquele momento, todo um processo de repressão, além dos crimes cometidos contra as trabalhadoras.

Gostaríamos de lembrar a V. Ex.ª, também pondo em xeque as medidas que serão tomadas, em função dos exemplos que temos aí, todos os dias, da atuação do próprio Ministério da Justiça, lembrando da importância que hoje tem em nosso País, fruto da luta das mulheres, o Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres, ligado diretamente ao Ministério da Justiça. Nós temos absoluta certeza de que o Conselho será um órgão extremamente atuante no sentido de que o Ministério da Justiça exercerá as necessárias. Inclusive poderemos ser porta-voz no sentido de que o Ministério da Justiça tome as providências cabíveis. Fiz questão de efetuar estas colocações, exatamente para resgatar uma das funções do próprio Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. Ontem tivemos aqui, no Rio Grande do Sul, a implantação do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher, que será ligado diretamente à Secretaria da Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Então a importância de aproveitarmos esses órgãos criados através da nossa participação e por propostas das mulheres, ligados aos órgãos da Justiça do nosso País, Ministério da Justiça e Secretaria do Estado, no sentido da punição dos crimes que são cometidos contra as mulheres e trabalhadores brasileiros. É a nossa aprovação à sua Indicação e a nossa disposição de, exatamente, junto ao Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, fazer com que, efetivamente, o Ministério da Justiça cumpra as suas funções de penalizar aqueles que cometem crimes de tal gravidade.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Sou grato a V. Ex.ª e julgo extremamente importantes as observações feitas por V. Ex.ª.

Encerro, Sr. Presidente, e reitero duas observações feitas aqui da tribuna: primeiramente, se os crimes aconteceram há seis meses atrás, estes crimes, pelas penas a eles atribuídas, contra a organização do trabalho, não podem ficar impunes. Estes crimes perpetrados devem ser investigados através de competente inquérito policial e os seus responsáveis processados na forma da Lei e condenados. Os crimes não foram prescritos. Se crimes cometidos por pessoas, tais como roubo, furto, extorsão, crimes assim são averiguados até o momento da sua prescrição, os crimes contra a organização do trabalho muitas vezes caem no esquecimento e só são lembrados no momento da greve. Nós achamos que a impunidade não deve existir em relação aos crimes contra a organização do trabalho. De outro lado, também estes fatos, além daqueles ilícitos denunciados pelos funcionários à época, vêm ocorrendo atualmente em outras empresas de grandes conglomerados nacionais que operam neste ramo do comércio. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Encerrada a discussão. Em votação. (Pausa.) Os Srs. Vereadores que aprovam a Indicação nº 96/86 permaneçam sentados. (Pausa.) APROVADA.

 

PROC. Nº 0452/87 – INDICAÇÃO Nº 03/87, de autoria do Ver. Adão Eliseu, que sugere ao Excelentíssimo Senhor Governador do Estado que determine a inclusão no currículo de 1º Grau de ensino a disciplina Folclore Rio-grandense.

 

Parecer:

- da 5ª CR. Relatora Ver.ª Gladis Mantelli: pela rejeição.

 

O SR. PRESIDENTE: Em discussão a Indicação nº 03/87. (Pausa.) Com a palavra, o Ver. Antonio Hohlfeldt.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, não tenho dúvida do mérito e da preocupação do Ver. Adão Eliseu, da inclusão, nos estudos da escola de 1º grau, e eu diria de 2º grau, de matéria relativa ao Rio Grande do Sul, e me expresso, neste sentido, no seu conteúdo, pelo mérito do Projeto. É uma questão de coerência que entendo, enquanto escritor, enquanto crítico literário. Tenho-me dedicado especificamente a este tema e tenho alguns trabalhos publicados nesta área. Na verdade, é lamentável que nós conheçamos, através da nossa escola primária, melhor a História, por exemplo, da invasão do oeste americano e do morticínio de milhões de índios peles-vermelhas, segundo a versão branca, dentro da História dos Estados Unidos, e desconheçamos absolutamente episódios que envolvem, por exemplo, a figura de Cristóvão Pereira, um vicentino que foi o responsável pela abertura das rotas de contato comercial e condução das vacarias do Rio Grande até São Paulo e Minas Gerais no século XVIII, ou desconheçamos a influência e a importância do Brigadeiro Silva Paes, que é, na verdade, o que se poderia dizer o instituidor da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, quando, em 1737, conseguia vencer a Barra do Rio Grande e estabelecer o Presídio de Jesus, Maria, José, origem da Cidade de Rio Grande.

Portanto, o conteúdo, como tal, parece-me um mérito inegável e eu queria parabenizar-me com o Ver. Adão Eliseu. Agora, entendo que, na forma, tem razão a Ver.ª Gladis Mantelli, no seu Parecer, Ver. Adão Eliseu. Me Parece-me que V. Ex.ª deveria reapresentar esta proposta no sentido de formular mais claramente, mais objetivamente, a sua Indicação, mostrando que se deva incluir na Cadeira de Estudos Sociais não apenas o Folclore Gaúcho, porque, inclusive, eu tenho medo de que acabemos desenvolvendo uma visão conservadora e reacionária da tradição do Rio Grande do Sul, como tem ocorrido quase sempre na tradição das atividades dos CTGs que, aliás, é uma preocupação de um dos seus criadores dos anos 50, que é o escritor Barbosa Lessa. Em seu último livro editado pela LPM, ele insiste em que o Movimento Tradicionalista no Rio Grande traiu, abandonou a linha original daquilo que foi criado nos anos 50/55/57 por ele e Paixão Côrtes, para se tornar um movimento reacionário, conservador, que nos anos da ditadura participou da opressão, através de uma visão elitista da História do Rio Grande.

Então, parece-me que o problema não é apenas indicar uma cadeira ou um espaço para o folclore gaúcho, mas, sim, indicar com clareza que a matéria de Estudos Sociais, nas primeiras séries primárias, deve incluir, obrigatoriamente, a História do Rio Grande do Sul, com determinados conteúdos. Incluir, por exemplo, a visita de Pero Lopes de Souza em 1532, que é o primeiro documento escrito sobre o Rio Grande do Sul de que se tem notícia. Incluir a importância desta região, chamada terra de ninguém, que é a faixa litorânea entre as Lagoas dos Patos e Mirim e o oceano Atlântico. Uma terra de ninguém que teve um papel social, político e histórico importantíssimo, à semelhança daquela faixa situada no Novo México Americano, para onde convergiam os marginalizados do sistema, os escravos fugidos, os índios perseguidos, os soldados que desertavam. No nosso Litoral foram fundadas cidades importantes como Mostardas, Tavares, e por aí afora.

Dever-se-ia incluir, sim, um estudo das tradições do Rio Grande, mas sob uma ótica progressista. Sob uma ótica em que se explique, com clareza, por exemplo, o significado do episódio conhecido como Guerra Farroupilha. E que não se dê esta interpretação, hoje ultrapassada e mesquinha de um Movimento Libertador. Mas que se explique que é um dos primeiros momentos em que o capitalismo internacional intervém no Rio Grande do Sul, mexendo os cordéis dos movimentos no sentido de buscar os seus interesses. São conteúdo deste tipo que, parece-me, seriam importante nós incluirmos na cadeira de Estudos Sociais. E, neste ponto, parece-me que, em nível de conteúdo, a proposta do Ver. Adão Eliseu merece uma atenção muito séria desta Casa. Eu diria até que se deveria propor, na Comissão de Educação desta Casa, um estudo mais aprofundado, um projeto que discutisse mais amplamente esta questão, propondo alguma coisa bem mais concreta à Secretaria Municipal de Educação e Cultura. Parece-me que, assim como está proposto, nós ficamos muito generalistas, e este não será o caminho melhor. Eu me preocuparia, Ver. Adão Eliseu, mais do que simplesmente com a idéia com a qual tenho a maior simpatia - e acho que é de extrema importância – eu me preocuparia com a linha em atuaríamos, com a linha com que esses conteúdos seriam transmitidos às nossas crianças e, evidentemente, qual o contexto em que isto se daria.

Eu, particularmente, concordo com a Relatora do projeto, Ver.ª Gladis Mantelli, de que isto deve estar incluído nos Estudos Sociais. É lamentável que nós cheguemos à Universidade, no Rio Grande do Sul – e quando eu tenho oportunidade de falar dessas personagens como Cristóvão Pereira, que é um dos grandes ignorados da história do Rio Grande – o nosso aluno universitário não tenha a mínima idéia de quem seja aquele que, em última análise, abriu os dois caminhos fundamentais de contato da Província de São Pedro e que hoje são a base através das quais funcionam a BR-101 e a 116, por incrível que pareça.

Neste sentido, parece-me que, apoiando e sugerindo ao Ver. Adão Eliseu que repense esta proposta, eu me coloco humildemente à disposição de S. Ex.ª, para que possamos objetivar melhor a proposta e avançarmos concretamente numa proposta que inclua, realmente, um conhecimento amplo e objetivo da História do nosso povo e de nossa província, o que me parece fundamental. Até acho que poderíamos entender essa Indicação não exclusivamente às escolas municipais – essa é sua idéia – mas, aproveitando a nova administração do Estado, mantermos contato com o futuro Secretário Bernardo de Souza, no sentido de que um programa fosse examinado através da SEC e SMEC. Por que não através do próprio CPERS, para que implantássemos esse programa em todas as escolas do Rio Grande do Sul em nível de 1º grau. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE (Gladis Mantelli): Sobre a mesa, Requerimento de autoria do Ver. Cleom Guatimozim, solicitando seja o Proc. nº 452/87, Ind. nº 03/87, de autoria do Ver. Adão Eliseu, retirado nos termos do art. 146 do Regimento Interno. Em votação. (Pausa.) Com a palavra, para encaminhar, o Ver. Adão Eliseu.

 

O SR. ADÃO ELISEU: Sr.ª Presidente e Srs. Vereadores, venho à tribuna apenas para as explicações do procedimento de retirada de minha Indicação, a fim de que meu requerimento e sua retirada não passem sem o conhecimento de suas razões. São razões apresentadas através do Líder de minha Bancada, porque não sou integrante da Comissão Representativa. Sou suplente e, portanto, não poderia fazê-las. Diante do Parecer da Relatora e diante do pronunciamento do Ver. Antonio Hohlfeldt, que enriqueceram de forma substancial a proposta, para não perder estas opiniões, todas estas idéias, achamos por bem protelarmos o projeto por mais algum tempo, a fim de enriquecê-lo com estas idéias. O projeto parece-me bom, excelente até, no sentido de levar à nossa juventude o conhecimento da História do nosso Estado, coisa que não se faz mais. Como disse o Ver. Antonio Hohlfeldt, nós conhecemos a História do Estados Unidos, de vários Estados e várias regiões de um país colonialista e imperialista e não conhecemos a História do nosso Estado, a cultura do nosso povo. Não conhecemos quase nada a respeito do nosso passado.

Aceito de bom grado, Ver.ª Gladis Mantelli e Ver. Antonio Hohlfeldt, as suas idéias e peço que me ajudem a coloca-las no papel.

Era isso, Sr.ª Presidente, no sentido de justificar a retirada desta Indicação, temporariamente, pois voltarei com ela e com todos os elementos que inseriram nesta indicação que, realmente, me parece terá a repercussão que nós esperamos que ela tenha nos meios do ensino rio-grandense e do ensino municipal. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE: Encerrados os encaminhamentos. Em votação o Requerimento. Os Srs. Vereadores que o aprovam permaneçam Sentados. (Pausa.) APROVADO.

A seguir, passaremos aos Requerimentos.

Requerimento de autoria do Ver. Frederico Barbosa, solicitando Voto de Congratulações com o Dr. Paulo Odonne Araújo Ribeiro, por sua eleição e posse na Presidência do Grêmio Foot-Ball Porto-Alegrense.

Em votação. (Pausa.) Para encaminhar, o autor do Requerimento, Ver. Frederico Barbosa, tem a palavra.

 

O SR. FREDERICO BARBOSA: Sr.ª Presidente e Srs. Vereadores, estou submetendo ao Plenário um Voto de Congratulações com o Dr. Paulo Odonne Araújo Ribeiro, por sua eleição e posse na Presidência do Grêmio Foot-Ball Porto-Alegrense. Pouco contato mantive com o Dr. Paulo Odonne. Os contatos foram cingidos à convivência extremamente inteligente do Dr. Paulo Odonne, na época em que exercia a função de Secretário de Educação e Cultura de Porto Alegre e fui um dos representantes do Conselho do Plano Diretor, onde o mesmo representava a Ordem dos Advogados do Brasil.

Mas quero salientar esse voto no sentido de que, num pleito democrático aberto, o Grêmio teve escolhida a sua nova direção e uma direção que, ousando me colocar na geração do Dr. Paulo Odonne, presumindo ser de uma unidade mais ou menos semelhante à do novo Presidente do Grêmio, vejo que é um desafio, porque todos nós sabemos a maneira com que está sendo conduzido o esporte do Rio Grande do Sul e do Brasil, principalmente pelo desafio que significa para alguém dirigir um clube do porte do Grêmio, assim como do Internacional, ao qual tenho a honra de pertencer e do rol de amizades do Dr. Gilberto Medeiros. Isto porque se sabe que, pela carência de recursos, pelos estádios vazios, tem que se usar de muita criatividade e de muita inteligência, para que se possa compor aquilo que represente realmente o Grêmio, que é um grande time de futebol. E, neste ponto, vejo os méritos do atual presidente que, certamente, com sua posição social consolidada, em Porto Alegre, no Rio Grande e neste País, aceitou o desafio de concorrer à Presidência e levar adiante uma idéia extremamente espinhosa, que é enfrentar os problemas e as agruras que o futebol hoje requer de uma direção que tem que ter, acima de tudo, como já disse, inteligência, criatividade e habilidade. Nesse ponto, o Presidente do Grêmio, me parece, encontra-se extremamente bem assessorado, quando leva consigo a figura do Dr. Régis de Freitas Lima. Este tem demonstrado, junto com o Presidente do Grêmio, além de tudo que já citei, uma capacidade enorme de dialogar para conseguir cumprir com o objetivo de uma direção de futebol de um grande time e, principalmente, articular a necessidade de recursos com aquilo que os jornais, hoje, estão a dizer que é a pedida – como se diz no esporte – dos atletas. Não solicitam menos do que uma quantia que os clubes não podem chegar a pagar: mais de 100 mil cruzados para simples renovação de um contrato.

Recebo, com muita honra, o aceno do Líder do PDS, Ver. Hermes Dutra, para que encaminhe, também, em nome de seu partido; o Ver. Jorge Goularte, também me acena. O Vereador independente e esportista colorado também me honra com a inclusão do seu nome em meu pronunciamento. O Ver. Aranha Filho, que além de conselheiro é filho de um Ex-Presidente, o nosso falecido Ver. Martim Aranha, que foi mais que Presidente, foi um dos homens que batalhou heroicamente, nos áureos tempos do Grêmio para que o grande time tricolor chegasse onde chegou, até hoje.

Encerro, Sr. Presidente, dizendo que o Voto de Congratulações tem como significado, acima de tudo, a aceitação do Dr. Paulo Odonne Ribeiro, em enfrentar algo que, sabemos, será extremamente penoso, como é penoso para qualquer um que dirija um clube com o porte do Grêmio Foot-Ball Porto-Alegrense. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE: Encerrado os encaminhamentos. Em votação o Requerimento. Os Srs. Vereadores que aprovam permaneçam sentados. (Pausa.) APROVADO.

A Mesa submete ao Plenário Requerimento de autoria do Ver. Hermes Dutra, solicitando Voto de Congratulações com a Cia. Riograndense de Telecomunicações – CRT, pelo transcurso do 25º aniversário de serviços prestados à comunidade porto-alegrense.

Em votação. (Pausa.) Para encaminhar, o Ver. Hermes Dutra tem a palavra.

 

O SR. HERMES DUTRA: Sr.ª Presidente, Srs. Vereadores, ainda no dia de hoje, na parte que o tempo regimental me permite, pretendo trazer a Casa alguns dados sobre o problema que a CRT está enfrentando e, até, para proporcionar um debate.

Por isso, não farei o encaminhamento desse Voto de Congratulações, mas quero apenas justificar, até, da necessidade de a Casa solidarizar-se com a Empresa, porque a CRT, embora as dificuldades e as falhas que apresenta, que, às vezes, aparecem aos olhos do público, a maioria delas é dada única e exclusivamente à falta de condições para bem exercer o seu trabalho.

Não resta dúvidas de que, ao longo desses 25 anos, prestou ao Rio Grande do Sul serviços imprescindíveis, mostrando a capacidade do Estado, não só como unidade mas até como força técnica e de gerenciamento, de ter uma empresa de telecomunicações.

Sabem V. Ex.as que a CRT é uma das únicas empresas que não pertencem ao sistema Telebrás? Todas as demais empresas do País são subordinadas a uma “holding”, que é a Telebrás, que injeta recursos nessas empresas para bem desenvolver o sistema financeiro dos seus Estados. Lamentavelmente, o Rio Grande do Sul, por ter essa posição de soberania, por ter uma empresa própria de telecomunicações, não tem conseguido receber, de parte do governo Federal – e faço justiça, este tem sido pior, mas os outros também – recursos necessários para dotar o Rio Grande do Sul de um sistema de telefonia em quantidade suficiente para os seus habitantes. Digo quantidade, porque em qualidade nós ombreamos com qualquer empresa do País.

Mas, lamentavelmente, nós temos que reconhecer que durante esses 25 anos, a empresa, embora todos os seus esforços e capacidade do seu corpo técnico e funcionários, não conseguiu ainda dotar o Rio Grande do Sul da quantidade necessária de telefones. Nós temos, hoje, cerca de cem mil rio-grandenses à espera de telefones. É uma demanda reprimida que é uma das maiores do País. E para que isso seja resolvido é necessário que o dono da empresa, que é o Governo, tome providências.

E esses 25 anos da empresa devem servir, também para uma reflexão profunda sobre seu papel social no cenário político, técnico e administrativo do Estado. Foram 25 anos de percalços, de dificuldades, de sucessos, às vezes até de fracassos, desde o longínquo ato de criação da empresa, quando foi nacionalizada a multinacional ITT – para usar a expressão brasileira – pelo Dr. Leonel Brizola. A empresa conseguiu desenvolver inclusive tecnologia própria, expandindo e cedendo a comercialização, instrumentos e inventos desenvolvidos nos seus laboratórios pelos seus funcionários que, hoje, são exemplos em todo o País. A CRT tem sido um laboratório fecundo de desenvolvimento de tecnologia na área de telecomunicações. Vários equipamentos hoje utilizado no sistema nacional de telecomunicação foram desenvolvidos aqui na Central da Bela Vista, onde fica o laboratório da empresa, afora a participação do desenvolvimento de redes, área de transmissão e até de computação, sabidamente setor dominado pela tecnologia internacional.

Quando a CRT comemora os 25 anos de existência é necessário que se reafirma a necessidade dela como empresa de telecomunicações nas mãos do Estado, porque é um setor estratégico, nacional, que não pode fugir ao controle do riograndenses, porque ela não é propriedade do governo que está aqui hoje. E ela deve permanecer, fundamentalmente, sob o controle do Rio Grande do Sul.

Portanto, devem ser analisados, de forma mais ampliada, os problemas que a CRT está enfrentando, inclusive de inadimplência com a Fundação dos Funcionários da Empresa. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Clóvis Brum.

 

O SR. CLÓVIS BRUM: Sr.ª Presidente e Srs. Vereadores, são 25 anos de atividades desenvolvidas pela CRT. Diretor Hermes Dutra, não conheço da vida administrativa da CRT, mas sou muito presente às atividades desenvolvidas pela CRT. O meu encaminhamento prende-se a uma posição que assumo, nesta tribuna, nesta manhã, com o Líder do PMDB na Câmara, e com uma advertência, ao meu Governo que se instalará a partir do dia 15. Na oportunidade em que a Câmara se congratula com a Câmara se congratula com a CRT pelos seus 25 anos de aniversário, nós afirmamos, Ver. Hermes Dutra, que também desposamos a mesma crença e a mesma posição de que a CRT deverá continuar como uma Companhia do Estado do Rio Grande do Sul, ligada à Secretaria de Minas e Energia. Não há hipótese alguma que nos demova desse propósito e dessa posição de que a CRT deixe de ser gaúcha para pertencer aos órgãos federais. Sabemos das dificuldades da CRT; sabemos muito das dificuldades que motivaram a criação da CRT, sendo, então, Secretário de Minas, Wilson Vargas da Silveira, no Governo do Sr. Leonel Brizola. Acho que ao se comemorar 25 anos de atividade da CRT, com todo o seu endividamento, com todas as suas dificuldades, deveria ser questionado, pois qual o órgão público que não está em dificuldades? Não seria a CRT uma exceção. A CRT desbravou este Rio Grande, no campo das telecomunicações. Acho que a homenagem proposta pelo Ver. Hermes Dutra encontra eco nesta Casa. E mais: temos a sua posição nítida e que já era nossa: que a CRT continue prestando seus relevantes serviços à comunidade rio-grandense como empresa do Rio Grande do Sul. E é o meu primeiro apelo ao Governador Pedro Simon e ao Secretário Alcides Saldanha, para que não entreguem a CRT a órgãos federais. Ela é coisa do Rio Grande do Sul. Feita, erigida, implantada, trabalhada, paga com o dinheiro do povo rio-grandense. É o primeiro apelo desta manhã, para que a CRT continue no Rio Grande do Sul. Nem tudo que o Dr. Brizola fez foi ruim, Vereador. Tem alguma coisa aproveitável. Pôr isso nós nos somamos às congratulações pela passagem do 25º aniversário da CRT na certeza de que a CRT, a despeito e contrariando muitas articulações que proliferam na área federal, continue no Rio Grande do Sul. Era isso, Sr. Presidente e Srs. Vereadores. O segundo apelo ao Governador virá numa outra intervenção. Não só ao Governador mas à direção regional do meu Partido e à previdência nacional de assistência social. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE: Com a palavra, para encaminhar, o Ver. Antonio Hohlfeldt.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Sr.ª Presidente e Srs. Vereadores, entendo e louvo a preocupação do Ver. Hermes Dutra com esse Voto de Congratulações, na medida em que é um dos técnicos da CRT.

Como não tenho a mania do Ver. Werner Becker de mudar texto de Voto de Congratulações de autoria de outros Vereadores, não vou sequer sugerir ao Ver. Hermes Dutra que, ao invés de fazer o comunicado apenas para a atual Direção da CRT, faça a transmissão desse Voto aos funcionários da CRT.

No entanto, desta tribuna, digo que não apresento Voto de Congratulação à atual Direção da CRT, mas, sim, apresento-o aos funcionários e aos técnicos da CRT. Não apresento Voto de Congratulações à atual Direção da CRT, porque entendo que ela é a responsável por alguns dos aspectos que hoje vive aquela empresa. Por duas vezes denunciei, e não fui contestado de maneira definitiva, o fato de que o hoje líder do PFL na Assembléia Legislativa, Dep. Athos Rodrigues, ex-Diretor-Presidente da CRT, uso e abusou daquela empresa na sua campanha eleitoral. Tive companheiros que me ajudaram na minha campanha eleitoral, no interior do Estado, na região especialmente dominada pelo Dr. Athos Rodrigues, mais especificamente em Alegrete, a região de Livramento, em que o Sr. Athos Rodrigues e seus cabos eleitorais ofereciam, em troca do apoio político, furar a fila e receber na frente o seu telefone. Chegamos, inclusive, a esboçar, no final do ano passado, um estudo para acionar juridicamente a CRT para que cumprisse a ordem das inscrições da entrega dos telefones. Porque a verdade é que nós temos no Estado do Rio Grande do Sul cerca de três mil pessoas que se inscreveram e pagaram na totalidade os seus telefones e não os receberam. E temos outras que se inscreveram, ainda não concluíram os seus pagamentos e já os receberam, porque tiveram a simpatia do hoje Dep. Athos Rodrigues. Então, parece-me que a crise da CRT, embora a análise contextual do Ver. Hermes Dutra tenha origens, esteja correta. Ela não contempla, no entanto, um aspecto: é inegável que ao menos no último ano, e eu falo daquilo que eu conheço e tenho provas, porque tenho amigos meus que, quando vieram me perguntar: “afinal topa ou não topa a proposta do Dr. Athos? Eu disse: é evidente que topa. Por que vai deixar de topar? Já pagou? Já está inscrito? Qual a ética, em última análise? Temos é que topar e denunciar. Topar e ter a prova para fazer a denúncia e foi o que eu fiz da entrega de telefones.

Então, neste sentido, eu não corrijo o Voto de Congratulações do Ver. Hermes Dutra, mas faço questão de dirigi-lo, no que toca a mim e ao meu partido, não à direção da CRT, mas sim aos funcionários e aos técnicos, dentre os quais, inclusive, incluo o Ver. Hermes Dutra. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE: Encerrados os encaminhamentos. Em votação a Requerimento. Os Srs. Vereadores que o aprovam permaneçam sentados. (Pausa.) APROVADO.

 

(Obs: Foram aprovados os demais Requerimentos constantes na Ata.)

 

Passaremos ao período de

 

COMUNICAÇÕES

 

O primeiro orador inscrito é o Ver. Antonio Hohlfeldt. Por transposição de tempo, tem a palavra o Ver. Auro Campani, que cede seu tempo ao Ver. Hermes Dutra.

 

O SR. HERMES DUTRA: Sr.ª Presidente, Srs. Vereadores, começaram a chegar esta semana às mãos dos brasileiros o formulário para declaração do Imposto de Renda. Deveriam mudar o nome. Deveria chamar-se formulário de enfiação, enfiação do verbo enfiar, enfiar a mão no bolso da classe média brasileira.

Lamentavelmente, às vezes, na maioria das vezes até, as palavras se confundem com o vento, passam, batem nas orelhas das pessoas, e mesmo que ouvidos moucos não tenham não guardam ou não ouvem o que se dizem. Em dezembro de 1985, o mago das financias, o homem que salvaria o Brasil, o Min. Dílson Funaro encaminhou um pacote para o Congresso Nacional, que, felizmente, o meu partido votou contra, mas o PMDB fez aprovar, no qual reduzia o desconto do IR na fonte, tido e visto como uma panacéia nacional, mas se escondiam sob este desconto duas armadilhas feitas talvez até com má intenção. Uma delas era que isto ia reduzir a arrecadação das grandes Prefeituras, das Prefeituras das Capitais de Estado e dos Estados porque o imposto retido na fonte dos funcionários públicos constitui receita para as Capitais dos Municípios e para os Estados. Porto Alegre perdeu com isto mais ou menos 50% do que deveria arrecadar. E os funcionários públicos, a classe média em geral, sorria feliz achando que o mago das finanças lhes teria trazido a terra prometida. Mas agora, ao receber o formulário de declaração do IR, estão acordando. E acordam-se de um pesadelo. O que não se pagou o ano passado vai se pagar dobrado este ano. O que se gastou o ano passado, alicerçado por uma áurea consumista, incentivada pelo próprio Governo Federal, vai se pagar com juros de mercado, este ano, e a classe média brasileira, a mola motora do País, quem produz, quem movimenta a economia nacional, vê o seu poder aquisitivo diminuir de uma forma drástica.

E não pensem que isso não vai afetar o trabalhador de baixa renda. Vai, porque a primeira coisa que a classe média vai fazer é reduzir o seu consumo, e a primeira redução de consumo que faz é alimentar menos o chamado mercado formal de emprego, reduzindo o salário da empregada doméstica, não dando emprego para as novas empregadas domésticas, evitando a utilização de serviços, fazendo em casa pequenos consertos, tentando com isto diminuir a perda do seu poder aquisitivo, mas causando, com isto, uma verdadeira escalada de desemprego nesta área, porque a corda sempre arrebenta no lado mais fraco. É isto que o PMDB não vem dizer a público. Mascara, dizendo que quem tem mais tem que pagar mais, mas a equação não é tão simples assim; se assim fosse, qualquer governo teria resolvido o problema. E o pior de tudo é que, efetivamente, não se assume a responsabilidade dos verdadeiros culpados por esta situação. Já sei: vão alegar que são os últimos 20 anos. Mas isto aqui já não cola mais, porque só falta o Ver. Clóvis Brum dizer que o Ver. Hermes Dutra é responsável pelo Exército estar intervindo dentro da Refinaria Alberto Pasqualini. Vai dizer que é culpa dos últimos 20 anos! Vai dizer que o Hermes Dutra é que mandou botar as tropas na Refinaria Alberto Pasqualini ou na Refinaria Duque de Caxias! Só falta dizer isso!

Então, nós temos é que abrir a discussão de uma forma clara e inequívoca, apontar os responsáveis por esses atos. Quem é que está achacando a classe média brasileira? Foram os últimos 20 anos? A propósito dos últimos 20 anos, nos últimos 20 anos não havia falta de remédios. Hoje, se você quiser comprar remédio numa farmácia, apesar de terem dado, para as multinacionais, aumentos de mais de 100%, tentem V. Ex.as comprar remédios nas farmácias hoje, principalmente remédios de consumo popular.

Mas, quero voltar ao tema da minha questão: o Imposto de Renda. Renda não é salário; salário faz parte da renda; numa definição muito ampla se poderia imaginá-lo como fazendo parte. Taxar o salário da forma como estão fazendo é verdadeiramente falta de escrúpulo porque, vejam bem, se um engenheiro faz uma obra e esta obra cai, ele é responsabilizado; se um médico mata alguém por negligência, ele deve ser responsabilizado. Mas o engraçado é que o Ministro Funaro, filiado ao PMDB, foi indicado pelo PMDB, o famoso “careca das esquerdas” – não estou dizendo em tom pejorativo, mas porque ele é conhecido assim – que representa o PMDB, está a fazer isto para a população.

Eu já nem vou falar no fiasco da moratória, Sr. Presidente e Srs. Vereadores. Um chargista do “Jornal do Brasil” fez uma charge homérica, definindo muito bem a viagem do Ministro Funaro: o Ministro retornando ao Brasil, de gravatinha, de pastinha cheia de símbolos na pasta – Tóquio, Grã-Bretanha – e de cueca, o que mostra, exatamente, a forma como a questão do Brasil está sendo tratada no exterior.

Mas, afinal de contas, o Presidente da República decretou a moratória e era isso que a esquerda queria. A própria Ver.ª Jussara Cony veio a tribuna dizendo que queria a moratória. Talvez tenha mudado de idéia. Mas se mudou, tudo bem. Aliás, se muda tanto. Pois eu vi o velho PCB acertando uns esquemas ainda ontem com o PDS, a nível nacional, PFL e com o PMDB. Mas essas coisas devem servir como meditação. Acha isso essencial. Não sou da corrente que afirma que o povo brasileiro não sabe votar. Acho que o povo brasileiro pode errar, como qualquer ser humano erra, como na última eleição. Mas temos que respeitar seu erro e só peço é que o povo brasileiro medite sobre isso, analisando para ver efetivamente quem está fazendo o que neste País. Isso é de vital importância para o futuro desta Nação. Teremos eleições em 1988 e deveremos ter em 1990 para governador. Falo nessas eleições porque para Presidente da República não sei se haverá. O povo vai saber, certamente, dar a resposta na hora necessária em que for chamado às urnas.

Sr. Presidente e Srs. Vereadores, não nego a responsabilidade dos erros de meu Partido, quando no governo. Nunca neguei, mas não consigo entender. Aliás, a “Zero Hora “ transmitiu um diálogo importante entre o Dep. Nelson Marchezan e um prócere do PMDB, qual ele provava que era melhor do que nós, pois levamos 20 anos para reproduzir uma inflação, eles produziram a maior em dois anos. Em dois anos eles produziram um salário-mínimo menor, em dois anos fizeram isso e aquilo, etc. É a triste verdade: o salário-mínimo da Nova República é menor que o salário-mínimo do Gen. João Figueredo. É menor. Para indicadores do custo de vida, a Nova República começou usando o IPC, depois o IPC restrito. Depois, ao invés da Fundação Getúlio Vargas, passou a utilizar o do IBGE. E, hoje, utiliza o INPC. Sabem V. Ex.as quem bolou o INPC? Eu não estou discutindo mérito, só estou citando fatos. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor é uma idéia do ex-Ministro Delfim Netto. Levou dois anos e a Nova República voltou ao mesmo índice. Quem estava com a razão? O ex-Ministro Delfim Netto, quando instituiu o INPC, ou o Ministro Dilson Funaro e o Ministro João Sayad do PMDB que, hoje, voltam ao INPC?

São dúvidas que eu tenho certeza de que a população brasileira vai aprofundar para tirá-las no momento oportuno. E este momento oportuno será o momento do encontro com as urnas.

Antes de concluir, quero deixar bem clara a minha posição quanto a Assembléia Nacional Constituinte. Na verdade, se quis fazer, no País, um clima para não se ter uma nova Constituição. O que se quis fazer foi inventar uma soberania para a Constituição se transformar ao invés do Órgão de fazer uma nova Constituição, no Órgão que fosse debater os problemas diários da Nação, sem a preocupação de fazer uma nova Constituição. Foi um erro que, felizmente, a maioria do Congresso Nacional se deu conta. E acho que, agora, com o Regimento Interno aprovado, se poderá fazer uma Constituição. Agora, se esta Constituição não sair como a Constituição que todos nós queremos, se sair uma má Constituição, não culpem o Regimento Interno, não culpem a atual Constituição. Ela será boa ou será ruim na exata medida em que cada um dos quinhentos e poucos Constituintes que lá estão depositarem o seu voto. E eu digo isto, Sr. Presidente, porque sei que muita gente já vai sair dizendo que a Constituição será ruim pelo Regimento Interno, já tentando se escusar da responsabilidade, mas ela deverá ser cobrada, quando da votação, em Plenário, do texto final da Constituição. Aí sim, não será por culpa do Regimento Interno. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Frederico Barbosa): Com a palavra, o Ver. Antonio Hohlfeldt.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, pensei que ia ouvir um discurso de oposição à situação atual da parte do Ver. Hermes Dutra, mas acabei ouvindo um discurso de apologia à ditadura de 20 anos atrás. Aliás, acho que ficaria até difícil ao Ver. Hermes Dutra atacar a situação de agora e atacar também a outra, porque a coisa está realmente tão parecida que fica complicadíssimo.

Mas quero me ocupar do assunto referente à remuneração dos funcionários públicos municipais. O PDT e o Prefeito Alceu Collares têm formalmente feito oposição à Nova República. Agora, quando chega a hora da prática, ou se esconde atrás dela, dos desmandos e incoerências da Nova República, ou simplesmente faz pior do que ela. No episódio das tarifas de ônibus, eu tive ainda a oportunidade de trazer aqui, em Plenário, a nossa posição a respeito do que é, para mim, a incoerência da SMT e da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, que simplesmente adotou o índice da Nova República, sem se preocupar em verificar se este índice era verdadeiro, era válido para Porto Alegre. E vejam que, aqui, eu estou levantando uma questão que é bem mais ampla. Quando digo que este índice poderia ou não ser válido para Porto Alegre, eu quero dizer com isto que ele poderia, tal como foi aplicado, ter prejudicado o trabalhador, e até, eventualmente, o empresário, porque, na verdade, a Prefeitura de Porto Alegre não fez nenhum cálculo, não enviou nenhum elemento comprobatório de que o aumento deveria ser naquele índice proposto no Ministério da Nova República. Simplesmente se escondeu atrás da Nova República e copiou, repetiu.

A situação, no entanto, com o funcionalismo público municipal é mais grave, porque é pior do que faz a Nova República. Se a Nova República vem extorquindo, diminuindo o salário do trabalhador brasileiro, a Prefeitura Municipal de Porto Alegre vem roubando do funcionalismo público municipal. Basta ver a proposta que o Sr. Prefeito está a apresentar. Aliás, já é a terceira, quarta, quinta ou sexta proposta. Já é característica da administração atual a insegurança na proposta. Propõe uma coisa, muda de opinião, no dia seguinte anuncia outra, mais adiante já tem um terceiro. Nós começamos com 25%, subimos para 27%, chegamos em 30% e quando os funcionários públicos foram à praça pública chegamos a 38% e ontem voltamos para 37%. É o que os jornais dizem hoje. Como o Projeto ainda vai ser enviado à Casa, periga baixar, periga mudar de novo, mas, como há uma greve em vista, periga aumentar. E não vai me surpreender nada se, na hora da votação, o Líder do PDT tiver que retirar aquela proposta e fazer uma outra Emenda. Tomara que para mais, porque terá o meu voto imediato. Agora, fora dos 40%, que é o mínimo e são os dois gatilhos disparados e fora do índice básico de salários gerais de 70%, eu acho que, realmente, não dá para começar a conversar.

E por isso, ao registrar a Assembléia dos Srs. Funcionários Municipais, no dia de ontem, eu quero não apenas dar o meu apoio a esta assembléia como, efetivamente, me colocar à disposição não só com as palavras, mas com a ação que o PT sempre desenvolveu. O estado de greve em que se acha o funcionalismo municipal desde o dia 19 de fevereiro sem dúvida nenhuma já alcançou algum resultado. Subimos um pouco na proposta. Estamos em 37%. Vejam: é um pouco mais que a metade do pedido feito pelo funcionalismo. O mais grave, no entanto, é que há um desrespeito objetivo, senão à formalidade da Lei, sem dúvida nenhuma, à justiça da Lei, que deveria aplicar o aumento a partir de 1º de janeiro, os seus 20% iniciais. A partir do dia 20 de fevereiro, nos seus 20% seguintes, e mais ou menos por esta época nos índices de 70%, em relação aos demais salários, não vinculados a salário-mínio. Isso para mantermos, efetivamente, ganhos historicamente adquiridos no movimento de luta da classe municipária, perdidos em apenas um ano da Administração do PDT, porque é a Matemática que nos mostra, de maneira insofismável – não trata de discursa político, se trata de um cálculo matemático – que em um ano de Administração do PDT, ao contrário das pessoas das promessas da campanha, o funcionalismo público municipal de Porto Alegre perdeu as escassas melhorias salariais que havia adquirido, com a pressão da classe, inclusive com a participação desta Casa e de Lideranças de Vereadores do PDT, nos últimos anos da Administração João Dib. As decisões tiradas de ontem na assembléia, a primeira das quais, a greve por tempo indeterminado a partir do dia 18 de março, me parece merecerem duas considerações: o nosso apoio absoluto à greve, sem nenhum sofisma. Entendo que a greve é um direito legítimo do trabalhador. E por ter curiosidade de ouvir do PDT negar isso hoje em dia. Em segundo lugar, uma preocupação pessoal de quem um dia já participou de um movimento grave como foi aquele dos funcionários da Empresa Jornalística Caldas Júnior, em 1984. Não acho que a greve por tempo indeterminado seja, num primeiro momento, a melhor solução. É uma avaliação minha, pessoal. Numa greve por tempo indeterminado, a minha pergunta é se o movimento terá forças para sustentar essa indeterminação de prazo. Mas, enfim, a assembléia decidiu e a nós cabe respeitar a assembléia: vamos apoia-la, mas alerto às lideranças dos funcionários públicos municipais de que partir logo para uma greve por prazo indeterminado é jogar uma carta perigosa que pode se voltar contra o funcionalismo na medida em que talvez a AMPA não tenha feito a mobilização necessária, até o momento, da categoria como tal. Então, esta é a preocupação que tenho e que expresso com absoluta clareza e respeito ao comando de greve a partir do dia 18, deixando claro que vamos apoiar este movimento também com a ação concreta, chamando a atenção  do Sr. Prefeito Municipal, de que, se o erário tem problemas, o funcionário público tem mais, e o funcionário público descontente trabalha mal, atende mal à população e fará com que a Prefeitura tenha prejuízos maiores.

 

O Sr. Kenny Braga: V. Ex.ª permite um aparte? (Assentimento do orador.) V. Ex.ª é um homem de sensibilidade, mas não se pode dar o que não se tem. Ouço embevecido os discursos, e parece que o PT resolve tudo com a palavra. E em Fortaleza?

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Por que V. Ex.ª acha que a Prefeitura de Fortaleza teve problemas com o PT? Exatamente porque o PT mantém coerência. Se a Prefeitura não manteve, o problema é dela. E nós vamos ter a mesma oposição à Prefeita de Fortaleza, sem nenhum problema, e é isso que o partido fez em Fortaleza: nós criamos uma situação de fato e uma discussão de fato com a Sr.ª Prefeitura Municipal de Fortaleza exatamente porque ela não cumpriu com a sua parte.

Não se trata de discurso, Ver. Kenny Braga, até hoje porque, numa outra experiência concreta, que foi a experiência da Grande São Paulo, de Diadema, se cumpriu a promessa de campanha e o funcionalismo público de Diadema tem, hoje, um dos salários – proporcionalmente aos do ABC – mais altos. Agora, em Fortaleza não foi cumprida a promessa. V. Ex.ª tem razão, e, por isso, o PT se opôs e, por isso, nós temos, hoje, uma situação de crise em Fortaleza, de uma oposição do partido, de uma situação de critica à Sr.ª Prefeita, ainda que, Ver. Kenny Braga, se deva contextualizar a situação lembrando que a Prefeitura de Fortaleza tem sofrido uma perseguição implacável do Governo do Estado do Ceará e que espero que mude agora, com o novo Governador, e do Governo Federal, que não deu nenhuma verba. A exemplo do que fez, aliás, com o Governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, que não tem escondido que enfrentou problemas gravíssimos de perseguição do Governo Federal, o que lhe dificultou muito a administração. Mas não justifica, Vereador, como não justificaram, inclusive, as resistências do Governador Brizola a certos aumentos de certos setores do funcionalismo carioca, que foram à greve e que conseguiram, na sua mobilização, aquilo que queriam. Então, me parece, e eu concordo com a intervenção e lhe agradeço: a posição da Prefeitura de Fortaleza não se justifica e não terá o nosso apoio. Porém, não se justifica, Ver. Kenny Braga, que esta Casa tenha aprovado um aumento significativo para os Srs. Secretários e outras autoridades do primeiro escalão. Então, vamos repartir um pouquinho mais. Era isso.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Por transposições de tempo que faz com o Ver. Cleom Guatimozim, está com a palavra o Ver. Clóvis Brum.

 

O SR. CLÓVIS BRUM: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, quando se trata da coisa pública, quando se trata do interesse da opinião pública, nós nos colocamos até acima dos partidos políticos. Eu, na condição de membro do Diretório Regional do PMDB e na condição de Líder da Bancada na CPMA, desejo registrar a minha inconformidade com o que está ocorrendo na área da Previdência Social, aqui, no Rio Grande do Sul.

Faço esse registro profundamente constrangido. Ele traz aos Anais da Casa o que está ocorrendo exatamente com a Superintendência do INAMPS, com a Secretaria Regional do Planejamento, com o Grupo Hospitalar Conceição e com o Hospital Presidente Vargas. Não posso silenciar quando a Imprensa registra denúncia de falsificação de assinatura, de preenchimento irregular de formulários de um hospital por pessoas estranhas a esse hospital, ligadas à Secretaria Regional do Planejamento do INAMPS. Diz mais a matéria, e diz o Diretor do Hospital Presidente Vargas: “Diante de tantas irregularidades, não pude silenciar”.

Denuncia o recobrimento de tubulação de ar quente, sem que exista, no Hospital Presidente Vargas, ar quente. Denuncia obras de reforma no terraço e nas dependências do quanto andar do Bloco B sem que tais compartimentos existam. Denuncia o preenchimento desta documentação pelo órgão do INAPS. A partir de agora deve o Sr. Superintendente do INAMPS esclarecimentos cabais, definitivos e sérios sobre estas irregularidades.

Aliás, Sr. Presidente, o Sr. Superintendente do INAMPS, Dr. Osmar Terra, deve à população explicações esclarecedoras das irregularidades, do grande rol de irregularidades denunciadas no Grupo Conceição. Não foram dadas as explicações para a opinião pública de páginas e páginas de jornais, divulgando uma série de irregularidades. Afastados que foram os diretores do Grupo Conceição, parece-me que tais irregularidades continuaram sem serem esclarecidas. Auditores vêm examinar as denúncias para a notícia na imprensa. Mas auditores vieram, naquela oportunidade, também, examinar as denúncias. E quais as respostas?

Sr. Presidente, pertenço a um partido político que vai assumir o Governo do Estado, daqui a poucas horas. Não posso, em hipótese alguma, sob qualquer pretexto, silenciar, quando no meu partido, quando integrantes do meu partido, quando pessoas indicadas pelo meu partido, ou por pessoas, ou por lideranças do meu partido estejam envolvidos em noticiários de fraude, de falsificação e estas pessoas apenas dizem que isto aí é uma tentativa de tumultuar a administração do INAMPS. Não, eu acho que um orçamento de oito milhões para obras fantasmas, para obras em dependências que não existem no Hospital Presidente Vargas, para equipamentos que não existem lá, isto não é tumultuar, isto é muito grave.

Daqui desta tribuna, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, faço um apelo à Direção do meu partido, ao Ministro da Previdência, para que afaste o Superintendente do INAMPS imediatamente e que se restaure a dignidade administrativa no órgão de assistência do trabalhador brasileiro. Eu entendo que a Previdência Social deve ser a menina dos olhos do Governo da Nova República. Não pode o trabalhador ter, no suor do seu trabalho, o desconto necessário, feito de maneira coercitiva, e, tentando falsificar assinaturas, aplicar-se 8 milhões de cruzados em obras que não existem. Isto é muito grave.

O meu pedido de afastamento do Superintendente do INAMPS fica aqui registrado, até como desagravo às coisas sérias que a Nova República faz, o esforço que ela faz para redemocratizar este País e moralizar a coisa pública. Não vou participar, não vou me perfilar entre aqueles que dão a desculpa de que os fatos estão sendo apurados. Não! Os fatos já tinham que ter sido apurados. Não posso acreditar que o Dr. Osmar Terra, depois de tantas irregularidades denunciadas, venha a dizer que o Hospital Presidente Vargas consegue fazer o parto mais caro do Brasil e dizer que o Hospital Presidente Vargas possui um dos piores desempenhos em relação aos demais hospitais da previdência. E por que o Superintendente não agilizou o Presidente Vargas e por que S. Sa. não fez com que esse hospital operasse melhor? Dupla irresponsabilidade: saber que o hospital não tinha bom desempenho e não providenciar no sentido de agilizar. O hospital não é um órgão particular do Dr. Osmar Terra nem da sua direção. Aquele é um órgão dos trabalhadores brasileiros. Não vou aceitar. A direção regional do meu partido vai receber um telex desse Vereador pedindo o afastamento dos envolvidos em fraudes, corrupção e qualquer denúncia neste sentido, da administração pública, para que, de uma vez por todas, se retire da coisa pública quem não tem a idoneidade para tratar da coisa pública.

 

O Sr. Kenny Braga: V. Ex.ª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Quero-me congratular com V. Ex.ª pelo tom tão corajoso de seu pronunciamento. É, realmente, um discurso que se faz acima de partido, porque o PMDB não pode ser excluído da responsabilidade de seus atos. Essas coisas acontecem porque se estabeleceu no País uma espécie de condomínio entre o PMDB e o PFL e não se sabe, exatamente, quem é responsável pela política nacional. Na verdade, há graves defeitos da coisa pública que não foram superados. É uma sucessão infinita de escândalos na administração da Previdência Social e não se chega nunca à punição dos responsáveis. V. Ex.ª toca no aspecto de que é preciso responsabilizar aquelas pessoas envolvidas em falcatruas e desvios que ocorrem na Previdência Social.

 

O Sr. Antonio Hohlfeldt: V. Ex.ª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Serei muito breve, Ver. Clóvis Brum. Eu queria me permitir, antecipando até uma outra discussão, que em seu telegrama as lideranças do PMDB incluam, também, o protesto da inclusão do Exército e da Marinha no episódio da greve dos marítimos e petroleiros. Parece-me que nós retornamos ao período lamentável da Velha República, da intervenção das armas dentro de um movimento que é eminentemente social.

 

O SR. CLÓVIS BRUM: Eu agradeço os dois apartes e devo dizer que o início do meu pronunciamento seria exatamente este. Segurança interna é, para mim, obrigação das Secretarias de Segurança dos Estados. O Exército Nacional tem uma missão específica, que é nos defender das invasões estrangeiras. Não vi com simpatia a presença de tropas no movimento reivindicatório de trabalhadores. Deverá a Ver.ª Jussara Cony falar sobre esse assunto. Por isso, nobre Ver. Antonio Hohlfeldt, deixo aqui a minha preocupação, no sentido de que a ordem interna deva ser mantida pelos organismos de segurança das Secretarias Estaduais da Secretaria Pública.

Finalizo, Sr. Presidente, dizendo que espero que o INAMPS, que o Ministério da Previdência tenha um pouco mais de respeito pelo trabalhador que, com muito sacrifício, paga a sua contribuição e assiste, horrorizado, sem poder fazer nada, tantas irregularidades e denúncias, sem punição de ninguém. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O próximo orador inscrito é o Ver. Cleom Guatimozim, que cede o seu tempo ao Ver. Jorge Goularte.

 

O SR. JORGE GOULARTE: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, este episódio que se lê nos jornais, de que as tropas do Exército ocupam as refinarias, vem provar, mais uma vez, a capacidade e a competência das Forças Armadas brasileiras de participarem dos momentos cruciais na solução dos problemas da Nação, nos problemas do País.

Eu, como ex-integrante do Exército brasileiro, discordo do Ver. Clóvis Brum quando diz que as Forças Armadas têm apenas que manter a segurança externa. É constitucional que também deve manter a segurança interna no País. E ao lado das Forças Armadas, as Polícias Militares também estão a participar ativamente, a pedido da Presidência da República, da segurança das refinarias. E eu estranho que se critique, porque o PMDB – que tem direita, tem centro, esquerda festiva, esquerda rosa-choque (nunca vermelha; o máximo que chega é a uma rosinha desbotada) – está a criticar só por criticar. Mostra perfeitamente o desentrosamento do Governo e do Partido.

É importante que se diga mais uma vez: quando é necessário, as Forças Armadas são chamadas e participam, efetivamente, para assegurar o livre funcionamento das refinarias, nesse caso, e também a Marinha descarregando os navios que estão a precisar de que os funcionários dos portos voltem ao trabalho. E, quando isto não é feito, as Forças Armadas são chamadas para, mais uma vez, auxiliar nos seus problemas. A competência de alguns civis não consegue superar os problemas. Apelam para as Forças Armadas para solucioná-los. E o ex-integrante modesto das Forças Armadas achou que os companheiros, como Clóvis Brum e outros, devem estar contentes por verem os seus camaradas participando ativamente das soluções dos problemas do País.

 

O Sr. Kenny Braga: V. Ex.ª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Seu discursa é precioso, e as cabeças pensantes já se aperceberam de que não existe nenhuma diferença entre a Nova e a Velha República. Agora, o Sarney chama o Leônidas. São os mesmos procedimentos autoritários, conservadores, que tentam, de todas as maneiras, impedir o desenvolvimento das forças sociais neste País, Vereador. Então, V. Ex.ª está dando uma contribuição aqui, nesta manhã. Alguns parlamentares do PMDB insistem em ignorar isso de que não existe diferença substancial entre o Sarney e o Figueiredo e, cometendo esse erro, eles ajudam a atrasar o desenvolvimento das forças sociais deste País. Muito obrigado pela generosa contribuição que V. Ex.ª está dando, inclusive, para o esclarecimento de algumas cabeças deste Plenário. Muito obrigado.

 

O SR. JORGE GOULARTE: Sou grato a V. Ex.ª e eu diria mais, Ver. Kenny Braga: as Forças Armadas é que permanecem as mesmas, só tomam posições quando são solicitadas. Compreendo as determinações superiores como sempre têm feito as Forças Armadas deste País, que são, seguramente, as Forças Armadas mais bem preparadas e de moral mais elevada que existe, a meu ver, em todo o mundo.

 

O Sr. Clóvis Brum: V. Ex.ª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Nobre Ver. Jorge Goularte, vamos, definitivamente, estabelecer o seguinte: quase todos aqueles que prestaram o serviço militar são seus ex-colegas. Só que se estabelece uma diferença substancial pois V. Ex.ª percebe dos cofres do Ministério do Exército. Este Vereador não percebe absolutamente nada, muito pelo contrário, foi até proibido, pôr determinação do Sr. Comandante do III Exército – o que espero que tenha sido revogado pela Nova República – o ingresso deste cidadão nas dependências e unidades do âmbito do III Exército. Enquanto V. Ex.ª recebida diplomas de honra ao mérito e medalhas, este Vereador não pode receber seu certificado de reservista, de I Categoria, no pátio do quartel e o recebeu em plena Rua Luís Afonso, por estar proibido de entrar nos quartéis. Aliás, devo dizer-lhe que essa proibição foi na República Velha, ato que muito me honrou. Só espero que o novo comandante revogue essa decisão, se ainda não foi revogada.

 

O SR. JORGE GOULARTE: Sou grato a V. Ex.ª. Solidarizo-me com V. Ex.ª, dizendo que foi extremamente válida a vossa experiência. V. Ex.ª, como vítima, teve uma votação muito boa, a qual não teve este Vereador. Acho que V. Ex.ª pegou um ângulo e eu saio por outro ângulo. Acho que V. Ex.ª foi muito ajudado. Foi auxiliado enormemente porque as Forças Armadas, V. Ex.ª sabe muito bem, não permitem que se faça propaganda política dentro dos quartéis e, por isso, V. Ex.ª tinha justificativa para não comparecer nos quartéis, ao ser impedido de entrar nos quartéis, ao passo que meus ex-colegas me criticavam porque eu lá não ia, desconhecendo alguns deles que, legalmente, regimentalmente eu não poderia fazê-lo.

Por isso, Ver. Clóvis Brum, devo dizer, agora – até é bom que se esclareça – que concorri como militar fardado e tive apenas o direito que a lei me dava. E V. Ex.ª sabe muito bem que o militar, concorrendo às eleições, assumindo um cargo eletivo, não pode retornar à Força, o que acontece também nesta Casa com o Ver. Wilson Santos no âmbito da Brigada Militar aqui do nosso Estado. Por isso, Ver. Clóvis Brum, é preciso que se entenda que as Forças Armadas deste País continuam as mesmas, com a capacidade igual, auxiliando este País nas horas necessárias, dando a segurança que o Governo atual necessita para solucionar os graves problemas de greve que estão ocorrendo neste País.

Cumprimento as Forças Armadas do meu País pela capacidade que tem de resolver, não só dando segurança externa à Nação mas, também, participando ativamente da segurança interna das instituições essenciais e necessárias ao funcionamento pleno deste País.

Não vejo e nunca vi as Forças Armadas com estes olhos críticos de algumas esquerdas festivas, que não chegam nem a rosa-choque. Hoje são um rosinha desbotado, num País onde já existe PCB, PC do B e outras esquerdas menos votadas. Eu diria que só banca o rosa-choque em partido de centro-esquerda quem quer, quem não tem coragem de assumir uma posição mais vermelha. Então, fica no rosa-choque desbotado que não chega a dar uma coloração no sentido das esquerdas neste País. É como se diz o Prestes: “hoje em dia não há mais esquerda no Brasil”. Está tudo muito mais mudado e as situações estão muito diferentes da época em que o Prestes pensava, de maneira marxista, em modificar o regime brasileiro.

Eu cumprimento as Forças Armadas do meu País por, mais uma vez, estar auxiliando passivamente, sem agressões, a resolverem os problemas do Brasil. E isto continua em todas as Repúblicas, nas passadas, nas velhas, nas novas e nas novíssimas que virão. Quem viver verá. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE (Gladis Mantelli): O próximo orador inscrito é o Ver. Frederico Barbosa, que cede o seu tempo à Ver.ª Jussara Cony.

 

A SRA. JUSSARA CONY: Sr.ª Presidente e Srs. Vereadores, o assunto que nos traz hoje a esta tribuna não poderia deixar de ser o já abordado, naturalmente que pelas posturas ideológicas e os comprometimentos de formas diferentes, por diversos Vereadores nesta Casa. Entendemos e serve para caracterizar o momento em que vivemos em nosso País. São para nós fatos estarrecedores, que, após tanta luta de nosso povo por democracia, por liberdade, por condições dignas de vida, não deveriam estar acontecendo na Nação brasileira. Estou-me referindo ao aparato militar montado pelas Forças Armadas para combater as justas e oportunas reivindicações de trabalhadores brasileiros. Até ontem, os trabalhadores marítimos e, a partir de ontem, também os petroleiros.

 

O Sr. Antonio Hohlfeldt: V. Ex.ª permite um aparte? (Assentimento da oradora.) Nobre Vereadora, com todo o respeito, gostaria que V. Ex.ª me incluísse em seu discurso e na posição que V. Ex.ª está expressando.

 

A SRA. JUSSARA CONY: Nós agradecemos a confiança do Ver. Antonio Hohlfeldt, que aproxima exatamente aqueles que têm compromisso na resolução dos verdadeiros problemas do nosso País, que não passam pela intromissão, nós temos certeza, das Forças Armadas desta Nação. Senão vejamos; os marítimos estão proibidos de sair dos navios. Isso caracteriza prisão. Está suspenso o fornecimento de alimentos, de água potável, as linhas telefônicas estão cortadas. A Marinha de Guerra ocupou todos os portos na Nação brasileira. Os familiares estão impedidos de ter contato com os grevistas; a imprensa está proibida de entrar ou mesmo de se aproximar dos navios até o ponto de serem canceladas as credenciais da imprensa, caracterizando a impossibilidade do povo brasileiro de ser informado dos fatos. Em Santos, o contratorpedeiro da Marinha brasileira, Piauí, se coloca de forma ameaçadora perante os trabalhadores.

Realmente, são fatos estarrecedores, como há um bom tempo não estavam acontecendo em nosso País.

Ontem, as tropas do Exército ocuparam, por determinação do Presidente da República, as refinarias da Petrobrás em todo o País, para impedir a “operação permanência”, que é uma vigília reivindicatória do Sindicato dos Petroleiros em todo o País. Aí também está proibido o acesso da imprensa. Recebemos informações há pouco da diretoria do Sindicato, a respeito, inclusive, de um problema de segurança interna. Na refinaria Alberto Pasqualini, o Exército ocupa todas as instalações, não respeitando as áreas de segurança interna, circulando com carros em locais proibidos, comprometendo a segurança da refinaria. Realmente, são fatos estarrecedores que, pela luta do povo brasileiro, não poderíamos mais estar assistindo em nosso País. Os trabalhadores, em movimentos pacíficos e ordeiros, lutam por seus direitos. São tratados como criminosos, exatamente quando temos em curso os trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte, pela qual o povo lutou e que quer soberana. Está prejudicada a soberania da Assembléia Nacional Constituinte neste momento.

Mas, de outra feita, vamos analisar os dois pesos e as duas medidas que temos hoje nesta Nação. Os postos de gasolina fizeram “lock out” e o governo não tomou nenhuma medida. O “lock out” foi para ampliar exatamente a sua margem de lucro: 70% de aumento em relação ao álcool e de 100% em relação ao diesel e ao querosene. Os fazendeiros, durante todo esse tempo, inclusive desde a instituição do Plano Cruzado I, esconderam a carne e ficaram na mesma. A UDR fez uma manifestação agressiva à Nação brasileira em Brasília e não se colocaram as Forças Armadas para combater os latifundiários. E mais – e esta Casa tem sido palco de intensas discussões e de um trabalho sério em relação a este assunto – a indústria farmacêutica, cujo monopólio é detido pelas multinacionais, sonegou matéria-prima e medicamentos e continua sonegando à Nação brasileira, atingindo a sua segurança e a sua soberania, e nenhuma medida foi tomada pelo Governo. Aliás, foi tomada sim: o Governo concedeu às multinacionais o aumento que elas impuseram, através do boicote feito, através do poder político e econômico que elas detêm, porque detêm o monopólio, ameaçando a saúde e a própria vida dos brasileiros. E não se encontram medicamentos nas farmácias, apesar do aumento.

Os agiotas internacionais levaram do nosso País, nos últimos cinco anos, 56 bilhões de dólares. Nossa soberania foi hipotecada nos 21 anos de regime militar. Lamento que o Ver. Hermes Dutra não esteja aqui. E em nenhum momento esta Vereadora subiu a esta Tribuna, porque estaria extremamente equivocada, para defender apenas uma moratória, mas sim a suspensão do pagamento da divida externa com auditoria, até que esta Nação se pronuncie. Porque em nenhum momento esta divida foi contraída pelo povo brasileiro ou beneficiou esta Nação. E onde estavam as Forças Armadas na defesa da segurança e da soberania nacional? Exatamente, dois pesos e duas medidas. O que mais nos preocupa é, exatamente, a cedência cada vez maior do Governo ao imperialismo, ao latifúndio, aos monopólios. Cada vez mais o militarismo, que o povo quis sepultar na luta brava contra o regime militar, na gloriosa campanha das diretas, o militarismo mostra sua permanência no nosso Pais. O Governo trai os seus compromissos e investe contra o povo. Perde a sua popularidade e incentiva, exatamente por isso, quem sabe, o militarismo.

Sra. Presidente e Srs. Vereadores, há muita luta pela frente. Há que se incentivar a participação popular para influir no processo da Assembléia Nacional Constituinte; para nós não depende do voto dos constituintes eleitos, mas sim da participação do povo, porque nela há extrema necessidade e os fatos ai estão para nos comprovar isso, é preciso definir, de uma vez por todas, esta Nação, que tem que ser soberana, o verdadeiro papel da Forças Armadas, que é, no nosso entender, e dizemos mais uma vez desta tribuna, no compromisso público que sempre assumimos com a luta do nosso povo, de defender, sim, as fronteiras e o País das agressões externas do imperialismo. E não de ser e o que tem sido e continua sendo, no nosso entender, para vergonha Nacional, de se imiscuir na vida política da Nação brasileira como guarda pretoriana dos interesses de minorias privilegiadas que detêm o poder neste País. O verdadeiro papel das Forças Armadas é o de defender dos ataques externos. Só podemos ter governo, neste País, eleito pelo voto popular, e caminhamos para isso e, com a luta do nosso povo, vamos conquistar. Não podemos mais ter governos de olhos voltados para as Forças Armadas e pelo entrequismo com elas sempre compactuaram da Nação brasileira ao imperialismo.

 

Vamos conquistar, nesta Constituinte, os direitos pelos quais os trabalhadores e o povo têm sempre lutado. A forma mais elevada de luta dos trabalhadores, o direito de greve, o direito de liberdade e democracia mais uma vez ameaçada a mando do Presidente da República, colocando o Exército para reprimir trabalhadores e garantir o direito nos interesses de minoria privilegiada.

Portanto, Sr.ª Presidente e Srs. Vereadores, o nosso apoio à luta dos trabalhadores marítimos e dos petroleiros e o nosso repúdio à atitude do Governo, que permite e incentiva a que as Forças Armadas estejam, para a vergonha nacional, não a serviço da defesa da Pátria, mas, sim, de prontidão para reprimir trabalhadores que, com sua participação, constróem a Nação Brasileira. O que desestabiliza uma Nação é exatamente isso, não as justas reivindicações do povo brasileiro. Ao reafirmar o nosso repúdio, nós nos colocamos ao lado dos trabalhadores e da necessidade, mais uma vez, de que tenhamos a intensa participação do povo, porque é decisivo definir, no processo da Assembléia Nacional Constituinte, o verdadeiro papel das Forças Armadas. E essa direção não é dos constituintes eleitos, mas sim do povo brasileiro que, nas ruas, vai continuar a sua luta por democracia e por liberdade.

Lamento, Srs. Vereadores. Nosso tempo terminou e a Mesa já nos avisa. Ficaremos impossibilitados de dar o aparte ao Ver. Jorge Goularte, que, aliás, já teve tempo de colocar a sua postura ideológica e política aqui nesta tribuna. E ao Ver. Antonio Hohlfeldt que, com muito orgulho para nós, se coloca também ao lado do nosso posicionamento. Muito obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

A SRA. 1ª SECRETÁRIA: A Mesa gostaria de fazer uma comunicação ao Srs. Vereadores, por instrução do Sr. Presidente. A Sessão de domingo, dia 15 de março, abertura oficial da Legislatura, irá realizar-se às 9h30min.

 

O SR. PRESIDENTE (Brochado da Rocha): Tempo de Liderança com o Ver. Antonio Hohlfeldt.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, Apenas em complementação ao discurso da Ver.ª Jussara Cony, é bom que se lembre que são estas pressões a que estamos assistindo, do Exército e da Marinha, que considero pressões à Constituinte. Estas atitudes desta semana, que justificam a proposta que o PT assina – e me parece que o PC do B também – de se eliminar os três Ministérios e se criar apenas o Ministério da Defesa, projeto que neste momento está sendo implementado no Peru, através do seu presidente e, evidentemente, com a resistência dos ministros militares, mas me parece que é uma medida fundamental para a democracia no Brasil. Com a extinção dos ministérios armados e a criação de um Ministério de Defesa, aí vamos acabar com este tipo de pressão, pois não tenho dúvida de que é uma pressão das Armas sobre a Constituinte. Por outro lado, é bom lembrar o que fazem as Armas hoje, a defesa de quem assume hoje as Armas, quando aqueles mesmos senhores que participaram dos escândalos da SUFRAMA, ao final da administração João Figueiredo e que resultou no suicídio de um deles – envergonhado ou não, é uma pergunta que talvez a História responda. São os mesmos armadores, são os mesmos empresários que pagam salários de miséria ao trabalhador marítimo, que são protegidos pelas Armas. Curioso: o Exército vem do povo, mas não protege o povo.

Queria fazer um registro aqui, e pretendo, imediatamente, me comunicar com o Secretário Nereu D’Ávila. Recebi uma queixa, por telefone, da Sr.ª Eni Ferreira de Almeida: ontem à tarde, fiscais da SMIC, ao que parece com a presença do próprio Secretário Nereu D’ Ávila, compareceram no Bairro do Lami, Ver. Frederico Barbosa, no local onde estavam colocadas as tendas, na Av. Beira Rio, sobretudo na área chamada do Bar Redondo, ali pela altura do nº 600, e praticamente depredaram as tendas, segundo o relato da Sr.ª Eni Ferreira de Almeida, que é uma das pessoas atingidas.

Eu tenho tido cuidado na minha posição em relação aos camelôs no centro da Cidade, porque acho que é um problema muito delicado. Não tenho nenhuma posição final, nem de apoio às medidas do Secretário Nereu D’Ávila, nem em defesa do Sindicato, até porque acho que temos que discutir muito o papel desse Sindicato, que tem sido, também, explorador da sua própria classe. O Sr. Antônio Silva, de minha parte, não merece a menor confiança. Esta é uma posição muito clara minha e que não envolve as pessoas. E quanto aos problemas sociais, nós temos que encarar e defender. Enquanto problema social me preocupa a questão dos camelôs e ambulantes, porém, ao mesmo tempo, reconheço que é necessário um mínimo de ordem, até porque os dados que levantamos na Comissão de Inquérito, presidida pelo Ver. Luiz Braz, nos evidencia que se usa a estrutura do comércio ambulante para outras coisas que não comércio ambulante, ao menos não dos produtos previstos. Se usa até para outros produtos serem comercializados, inclusive tóxico, roubo, que é feito através dos pivetes, que desovam a mercadoria em meio a boa parte dessas bancas. Então, o problema me parece complexo. Agora, a SMIC chegar na beira da praia, sem aviso prévio, sem nenhuma discussão, sem nenhum debate com os proprietários e simplesmente passar destruindo essas tendas, parece-me um comportamento em desacordo com os comportamentos de até então do Secretário Nereu D’Ávila, nosso companheiro Vereador.

Se verdade a versão da D. Eni Ferreira de Almeida, uma das proprietárias atingidas, da Av. Beira Rio, 601, que está disposta a trazer publicamente a denúncia, evidentemente deveremos tomar as providências cabíveis. Acho que um Secretário se faz respeitar quando respeita o direito dos outros, antes de qualquer coisa. Se ele quer fechar as bancas, que faça um debate público, democrático, como os proprietários e apresente as justificativas para tomar tais providências. Agora depredar, destruir, na expressão usada pela D. Eni, parece-me que são atitudes não aceitas, de maneira alguma, até porque há capital empatado. Então, temos de discutir o problema.

Pretendo, a partir de agora, fazer o contato com o Secretário. Ainda não o encontrei na SMIC, para ouvir a Secretaria. Só espero que o problema não se seja briga interna do PDT, porque daí, realmente, a coisa ficará complicada. Espero que não seja uma briga interna do PDT, entre Vereadores que tenham a hegemonia da Zona Sul. Por enquanto, fica apenas o registro e a garantia à D. Eni de que estamos efetuando a denúncia e vamos averiguá-la junto ao Secretário Nereu D’Ávila. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Frederico Barbosa, em tempo que lhe cede a Ver.ª Gladis Mantelli.

 

O SR. FREDERICO BARBOSA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, tenho feito um esforço muito grande nos últimos tempos, principalmente nestes meses de verão, para tentar compreender a Administração do Município de Porto Alegre. Neste ponto, inclusive, nesta tentativa tenho conseguido vir menos à tribuna e, conseqüentemente, abordar menos assuntos referentes à Administração Alceu Collares. Porém a insistência em alguns equívocos da atual administração faz com que tenha que retornar para alguns assuntos que venho debatendo há longo tempo e em que não tenho sido atendido. Diga-se de passagem que não tenho sido atendido e parece que a Casa não tem sido atendida, naquele elo que é público e notório que não existe entre o Governo Mundial e esta Casa, que é um assessoramento político, se é que me é permitido de fora, não querendo me intrometer no Executivo Municipal, analisar aquilo que fere, em alguns momentos, o relacionamento efetivo entre alguns Vereadores desta Casa e o Executivo Municipal. Há falta de uma coordenação política, se é que estou bem informado, porque até agora não fui informado de que exista alguém para falar como coordenador político do Governo Alceu Collares. Pelo menos em todos os casos, em todos os debates que participei, não vi, não ouvi e nem recebi nenhuma informação de que exista alguém para falar, a não ser o próprio Prefeito, que certamente tem muita coisa para fazer e, conseqüentemente, pode até falhar nesta coordenação.

Especificamente, hoje, gostaria de citar três exemplos. Estão falando, em Porto Alegre, do projeto de modificação do Centro da Cidade, principalmente da área da Praça da Alfândega e seus arredores. Em segundo lugar, sobre um projeto grandioso que é em torno da Praça XV e da Praça Parobé. Diga-se de passagem – e vejo atentamente o Ver. Kenny Braga – estou a cobrar, há um mês, nesta tribuna, a oportunidade de que esta Casa receba dados mais concretos sobre o episódio lançado da estação no subsolo da Praça Parobé.

Hoje leio em “Zero Hora” que os arquitetos conhecem o novo plano, que a Função Pró-Memória vai conhecer, que a Coordenadoria do Patrimônio Histórico e o Conselho do Patrimônio Histórico e Cultural vai conhecer, que as entidades vinculadas às empresas dos transportes coletivos vão conhecer, que a população vai conhecer, e, mais adiante, diz o seguinte na terceira coluna do jornal: “...finalmente, a Câmara vai conhecer”.

Vou dar o terceiro item. Hoje o Prefeito está em manchete nos jornais, anunciando que mandará de volta à Casa o projeto dos Conselhos Comunitários e o projeto das cem casas para a criança. Tenho sido procurado, e acredito que o Ver. Aranha Filho e toda a Bancada do PFL, pela imprensa, para saber que história é esta de um encontro entre o PDT e o PFL para aprovação dos projetos. Se depender de mim, estou disposto a aprovar todos os projetos importantes para a Cidade, segundo o meu enfoque. Agora, não estou disposto a ser procurado por ninguém, depois de lançar os projetos a público. Se voltar cacoete, não terá o apoio deste Vereador.

 

O Sr. Jorge Goularte: V. Ex.ª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Vejo na Administração do Prefeito Collares que apenas se utiliza de velhas idéias com roupagem nova. Não vi absolutamente nada de novo. Até a passarela de eventos municipais era solicitada por muita gente, inclusive por este Vereador e outros, exatamente no mesmo local que hoje ocupa. Na Praça Parobé, V. Ex.ª sabe que eu queria fazer um Mercado Modelo. E fui tão criticado quando ali queria fazer o que hoje a Administração quer fazer! Votamos nesta Casa um projeto de minha autoria sobre a Secretaria de Fiscalização e o Prefeito não usa o Projeto votado, transformando-o em Lei, e quer fazer a mesma coisa através de um departamento. O Centro permanece da mesma forma. O que nós queríamos fazer e não pudemos é o que vai ser feito: sanitários públicos, artesanato na praça, criar na Parobé um Mercado Modelo. Absolutamente nada de novo, apenas muita conversa e pouca ação.

 

O SR. FREDERICO BARBOSA: Agradeço o seu aparte e sou testemunha do Mercado Modelo, já que acompanho V. Ex.ª há muito tempo, o que também defendi, para que ali pudesse ser colocado um verdadeiro mercado de frutas e verduras e dei como exemplo o antigo Mercado Livre, que hoje foi desalojado, para ficar lá a estação central do Trensurb. Mas o que me preocupa, como um dos integrantes da Bancada do PFL, é que se mostre, se diga à população que estamos aqui sempre disposto a examinar aquilo que há de bom para a população de Porto Alegre. E se tenha sempre, mas sempre, Vereador, a oportunidade de ver as coisas no sentido de mão única. Não há o passar de lado a lado. Os projetos já estão lançados e eu pergunto agora, ao Ver. Kenny Braga: já há uma posição firmada e agora se busca o apoio? Ou será que deve se deixar os 13 que, na maior parte, não são 13, são 12 no máximo? Mas, em todo caso, não quero me meter na bancada do governo. Mas será que é na hora da votação que vai buscar então o diálogo não só com o PFL, mas com todas as bancadas? Eu, pessoalmente, estou cansado de dizer, para não pecar por omissão e ninguém vai me pegar, porque até sou chamado pelos companheiros da Ver. Kenny Braga de opositor sistemático e contumaz, provavelmente por ter votado dois ou três projetos contra e ter aprovado todos os outros. Mas acho que mostro, mais uma vez, o problema que acontece, pedindo, há mais de 20 dias, pois já sei que estarei escalado junto com todos os outros Vereadores para ser o último a receber a idéia sobre o projeto da Praça Parobé. Diz aqui dia 17, e espero que seja deste mês. Mesmo assim, sem querer ser mais que os outros, mas pedindo muito antes que os outros, há mais de vinte dias, uma explicação técnica, e hipotecando desta tribuna o meu apoio, se as explicações técnicas forem convincentes sobre o verdadeiro rombo que tem que se fazer na Praça Parobé. E relembrei, da tribuna, as fotos antigas que mostram que ali era um canal, onde o rio avançava até a Praça XV e ali paravam os barcos. Só pedindo isso, já que a Câmara foi escalada em último lugar, para conhecer o Projeto. Além disso, o da Praça da Alfândega não se ouviu. Tudo bem, isto faz pelo menos com que minha consciência exija que eu volte à tribuna a dizer: que esta Casa poderia ter um tratamento não especial, mas igual a outras entidades, pelo Prefeito Municipal, até porque na hora da aprovação dos projetos esta Casa é que vai votar. Mesmo que seja inspirada por entidades da mais alta capacidade e representatividade, que estão representando o povo, que no fundo deságuam nesta Casa com os trinta e três representantes da população de Porto Alegre.

 

O Sr. Kenny Braga: V. Ex.ª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Acho absolutamente indispensável que esta Casa tenha conhecimento das matérias do interesse da população de Porto Alegre. Mas da maneira como V. Ex.ª fala, a impressão é que a Administração Alceu Collares está fechada para a curiosidade de V. Ex.ª e demais Vereadores, e não é assim. O Executivo porto-alegrense está aberto para todas as solicitações e curiosidades; não há nenhum interesse da Administração Alceu Collares em esconder coisa alguma, ainda mais quando se trata de matéria de interesse da população de Porto Alegre. V. Ex.ª sabe que o Executivo é aberto. V. Ex.ª sabe que o Executivo é transparente. Mas V. Ex.ª faz um discurso transformando o Executivo de Porto Alegre numa espécie de segredo máximo de Estado e não é isso – a realidade não é essa.

Talvez V. Ex.ª tenha se dirigido às pessoas erradas. No momento em que talvez V. Ex.ª se dirigir às pessoas certas, receberá todos os esclarecimentos necessários, o que é uma reivindicação absolutamente justa de V. Ex.ª.

 

O SR. FREDERICO BARBOSA: Vou encerrar. Só peço que me permita responder aquilo que já respondi no meu pronunciamento desde o início. Parece-me que a única pessoa certa para responder pelo Executivo é o próprio Prefeito, eis que só consegui eco, e vou dizer aqui em alto e bom som, só consegui eco, quando consegui falar com o Prefeito Municipal de Porto Alegre. E aí, Ver. Kenny Braga, me parece, sem querer entrar no mérito, está faltando realmente a coordenação política. Graças ao esforço do Líder da Bancada de V. Ex.ª, a quem tenho que tecer as gentilezas, na oportunidade em que recebeu os apelos deste Vereador e da Bancada do PFL, conseguiu, Ver. Cleom Guatimozim, V. Ex.ª conseguiu fazer com que o eco desta tribuna chegasse até lá. Mas de lá para cá, só falando com o Prefeito. Diga-se de passagem: quando se mostrou o erro ao Prefeito, ele tentou corrigir. Por isso estou dizendo que mais uma vez estou voltando à tribuna porque parece que o erro continua: não há ponderação política ou não há alguém que mostre ao Prefeito, e quem sabe a Câmara poderia ser ouvida já de início e poderiam ser aparadas algumas arestas que algumas vezes se transformam em grandes problemas para a aprovação de projetos de interesses da população de Porto Alegre.

Espero, com o meu pronunciamento, ter contribuído, mais uma vez, assim como o Prefeito, há poucos dias atrás, me disse pelo próprio telefone: “Qual é o problema que novamente estou eu a enfrentar?” O problema é que o diálogo deve ser aberto com esta Casa, junto com as outras, mas não depois das outras entidades. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Luiz Braz): Com a palavra, o Ver. Hermes Dutra. Ausente. Ver. Isaac Ainhorn. Ausente.

Com a palavra, o Ver. Jorge Goularte em Comunicação de Líder.

 

O SR. JORGE GOULARTE: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, volto à tribuna porque foram feitas algumas colocações pela Vereadora, que não sei se é ainda do PMDB ou do PC do B. Por que um partido que está no governo, pelo menos tenta estar no governo, é o PMDB, e, nesta Casa, sinto que está completamente órfão, porque o Líder da Bancada pede a demissão do Superintendente do INAMPS e a Vereadora está a criticar o governo, as Forças Armadas, e parece que quer a extinção das Forças Armadas. Ora, apenas quem não defende a democracia é que pode achar que a democracia plena não pode conviver com as Forças Armadas. Eu acho que pode. Eu acho que não há problema em que tenhamos democracia plena e as Forças Armadas em pleno funcionamento. O que queria a Vendedora? Que as Forças Armadas recebessem ordens superiores e não as cumprissem? Que se rebelassem os militares? Afinal, o que é que se quer? Fazer uma nova revolução? Aí é que está o problema.

Quando eu estava no PDS e dizia que sempre me considerei como pertencente a um partido que pensava ser do Governo, mas que nunca esteve no Governo, me criticavam, porque eu fazia críticas aos elementos do PDS. E agora, quem defendem o PMDB? Afinal, quem é Governo? São essas incoerências que precisam ser esclarecidas. Quem defende as Forças Armadas defende o povo também. As Forças Armadas Brasileiras são oriundas do próprio povo. Os militares deste País vêm de todas as camadas, especialmente das mais modestas. Este Vereador é um exemplo claro disso: fui menino de vila popular, ingressei no Exército Brasileiro, onde pude galgar aquilo que hoje sou, entrando com o segundo ano do primário e chegando à Faculdade.

Então, não há por que criticar as Forças Armadas porque estão cumprindo o seu dever. E eu repito: o que querem? Querem que não cumpram? Que se rebelem? E eu nem entrei no mérito de greves e de grevistas. Eu apenas pergunto: afinal quem é que vai defender o Governo? Onde estão os representantes legítimos do PMDB nesta Casa?

O Líder pede a demissão do Superintendente indicado pelo Partido. Quanto à Vereadora, acho que ainda é membro do PMDB, pois eu estou meio em dúvida se é PC do B, PCB, PSB ou PT, mas que PMDB, me parece, que não é, porque o PMDB está órfão nesta Casa em termos de defesa dos seus postulados e do Governo enfim. Porque o PMDB, meu querido irmão, Ver. Luiz Braz, é como o PSD, queiram ou não, em épocas passadas. Ele pode não estar no Governo mas é considerado como do Governo. Então, diante disso, alguém tem que fazer a defesa do Governo ou, então, devemos declarar o Governo órfão ou declarar a moratória do próprio Governo, coisa que está muito em moda.

Que fique bem claro que não é por estar defendendo os militares que concordo com atos paramilitares. Pelo contrário, os atos legítimos das Forças Armadas e das polícias, defendo. Exatamente o que estão fazendo: cumprindo com o seu dever, pois foi solicitado pelos superiores que fosse dada a segurança às refinarias e portos. O que queriam esses parlamentares? Que não fossem cumpridas essas ordens? Que se rebelassem contra essas ordens? Afinal, querem o quê? Uma política institucional? Querem democracia plena com Constituição em formação, já votada e criando as comissões para resolver os seus problemas? Ou querem virar tudo de novo, voltarmos à estaca zero, terra arrasada, para começar o quê?

Fico impressionado em ver propostas de extinção dos Ministérios e propostas inclusive de extinção das Forças Armadas. Isso é muito grave. Deve ser bem pensado, porque não pode esta discrepância dentro de um partido só e dentro de um governo só. Alguém tem que ter bom senso de, se não defender as idéias do governo, pelo menos explicá-las.

 

O Sr. Kenny Braga: V. Ex.ª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Constato com muita preocupação e até com uma certa melancolia o retrocesso político da Nova República. Lembro que na última greve nacional dos bancários foi convocado para intimidar através de uma rede nacional de televisão um Ministro da Justiça, que já havia mostrado a sua verdadeira face aqui em Porto Alegre. Ministro esse que se dizia revolucionário e que foi usado como xerife da Nova República. Agora, novamente, o governo chama as Forças Armadas para aniquilar, para calar as reivindicações dos trabalhadores marítimos. Agora, concordo com V. Ex.ª. As Forças Armadas agem somente a partir da ordem do seu chefe supremo, que é o Presidente da República. Se as Forças Armadas estão agindo assim é porque o Presidente da República, o Sr. José Sarney, deseja que seja assim.

 

O SR. JORGE GOULARTE: Só para esclarecer estes pontos: ninguém está contra os grevistas, nem entrei neste mérito, apenas digo que as Forças Armadas cumprem o dever. Ou o que querem, repito e enfatizo, querem que se rebelem, que não cumpram ordens, ou querem que sejam extintas as Forças Armadas deste País? É perfeitamente normal e válida a convivência da democracia, e não poderia ser de outra forma, com as Forças Armadas. Todos os países agem desta forma e eu espero que o Brasil tenha o bom senso de não modificar estar norma mundial. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Luiz Braz em Comunicações.

 

O SR. LUIZ BRAZ: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, eu acredito que nós estamos na hora exata de parar de enganar a nós mesmos. Nós precisamos parar de pensar que os partidos políticos que aí estão sejam os salvadores da Pátria quando este ou aquele estiver no poder. Nós já tivemos vários exemplos: aí está o PDT do Ver. Kenny Braga administrando Porto Alegre, as promessas que o Dr. Alceu Collares e que todos que pertenceram ao PDT fizeram para os munícipes desta Cidade. E o que aconteceu? Está aí o funcionalismo público toda revoltado. Aconteceu que, exatamente, o PDT não era a salvação desta Cidade. O PDT não era aquele partido político que ele mesmo apregoava ser. Não era a salvação. Lembro bem que o Líder do PDT nesta Casa apregoava que ia sanear todas as vilas populares, e elas estão aí sem saneamento, a população passando fome. Os problemas do Centro da Cidade persistem. V. Ex.ª, Ver. Jorge Goularte, pertenceu a um partido político, o PDS, que, durante vinte anos, comandou uma das piores ditaduras de que já tivemos exemplo em toda a história do mundo, que foi a brasileira. E V. Ex.ª, por ter participado, sabe muito bem do papel desempenhado pela ARENA e posteriormente PDS. O PMDB, se V. Ex.ª for analisar, tem, dentro dos seus quadros, parlamentares que são capazes de oferecer saída para a crise que estamos vivendo, mas temos também, dentro do nosso partido, aquelas pessoas que foram criticadas pelo Ver. Clóvis Brum hoje, pessoas que, realmente, estão dentro do PMDB, mas que não fazem o pensamento do partido.

Então, esta fantasia de, de repente, subir um líder aqui e dizer “o meu partido é melhor” precisa parar. Temos que analisar os fatos que estão ocorrendo e o que podemos oferecer de idéias, na prática, não apenas nos discursos. Porque eu tenho ouvido, aqui nesta tribuna, discursos maravilhosos de diversos Vereadores, mas não tenho notado nada prática. A prática, realmente, decepciona muito, frustra muito. Então, está na hora de se trabalhar mais. Não é de falar menos, falar também, mas trabalhar mais, oferecer métodos, saídas.

Nós estamos num período de transição. Ainda não atingimos a democracia. Quem não sabe disto? Temos, realmente, uma certa aversão, hoje em dia, pelas Forças Armadas, mas temos esta aversão por causa do golpe de 64. Nós levamos aquele golpe e o País todo ficou mergulhado na miséria, exatamente por causa dos militares. É por isto que, quando notamos que os militares intervêm numa greve como esta, é claro, a mando de seu comandante supremo, nós ficamos com um pé atrás, porque, afinal das contas, nós já sofremos um golpe, e este País todo continua sofrendo, pois a miséria ainda é muito grande. Se a revolução num país se fizesse através do estômago, como muito comentam, este País viveria constantemente em revolução, porque o estômago da população deste País realmente sofre muito.

Então, sobre as teses levantadas, a Ver.ª Jussara Cony quando veio aqui hoje falou sobre os militares, ela falou, exatamente, por causa daquilo que aconteceu no passado. É claro, Ver. Jorge Goularte, que nós vamos atingir a nossa democracia, mas com muito trabalho, e é um trabalho que parcela do PMDB tenta fazer, como, também, parcela do PDT tenta fazer. Eu consigo detectar, e eu não posso, realmente, ser tão ignorante a ponto de não detectar bons parlamentares do PDT, bons parlamentares do PDS, bons parlamentares em todos os outros partidos, mas eu consigo, também, detectar aquelas pessoas que estão apenas mal-intencionadas, que vêm aqui criticar apenas para criticar. E aí não vamos chegar a nada, não vamos dar nenhum tipo de contribuição. Se eu critico, por exemplo, o Centro da Cidade, eu tenho que oferecer opções para o Centro da Cidade, porque não basta eu falar utopicamente daquilo que acontece, se não oferecer saídas. Quando nós estivemos presidindo aquela Comissão de Inquérito, tivemos o cuidado, nobre Ver. Jorge Goularte, de oferecermos soluções para o Centro da Cidade, mas, se estas sugestões não foram seguidas, não foi por culpa nossa, mas nós continuamos ainda lutando. Quando V. Ex.ª Foi Secretário da Indústria e Comércio, eu acompanhei o seu trabalho. Queria o Mercado Modelo. Pode não ser o ideal, mas é uma idéia.

Eu acho que nós estamos precisando, aqui, de idéias e não só de críticas, porque, se dissermos que este ou aquele partido político é o forte, não é o forte. Nós temos partidos políticos fraquíssimos. E esses partidos políticos pequenos, esses que estão surgindo agora, eles surgem pequenos enquanto são pequenos, porque, como têm maior pureza, eles ainda são fortes em suas ideologias. Mas, quando começam a crescer, começam a despurificar, e aí vêm os problemas, que não se restringem apenas ao Brasil, mas a todos os grandes partidos do mundo.

 

O Sr. Jorge Goularte: V. Ex.ª permite um aparte? (Assentimento do orador.) V. Ex.ª, que participa dos problemas da Cidade, e no que tange às soluções, quando eu falei sobre o PMDB, é para ficar bem claro que, quando o PDS era considerado do governo, jamais esteve no Governo, como o PMDB atualmente, que pensa estar no Governo, mas que infelizmente não está. Há bons parlamentares no PMDB? É claro, excelentes. Há muitos. Agora, há problemas, e esses problemas internos é que eu digo que alguém tem que se definir. E eu digo: afinal, quem está no governo? É dito do Governo o PMDB, embora eu entenda que é muito difícil numa transição que um partido do governo seja considerado efetivamente no governo.

 

O SR. LUIZ BRAZ: Acredito que ninguém possa pensar, a esta altura dos acontecimentos, que aquele domínio sobre qual nós vivíamos, e que não é um domínio de forças internas, vai mais além isso, que terminou com a eleição de Tancredo Neves, através daquele Colégio Eleitoral. Aí, morreu Tancredo, veio o Sarney e as coisas se modificaram. As intenções políticas de Tancredo eram uma, as intenções de José Sarney eu não sei, por isso não quero critica-las. Mas parece que as intenções dele não estão dando certo para o momento. Mas acredito o seguinte: pelo menos estamos vislumbrando uma luz lá no fim do túnel. Porque já falamos em eleições diretas para a presidência da República. E essas eleições, Ver. Kenny Braga, antes que V. Ex.ª dê o aparte, elas não podem ser marcadas, por exemplo, para amanhã. Porque amanhã nós temos uma Assembléia Nacional Constituinte trabalhando, e eu acredito que, enquanto esta Assembléia Nacional Constituinte não terminar o seu trabalho, não disser, exatamente, aquilo que deve acontecer, não disser quantos anos deve o Presidente da República ainda continuar no seu trabalho frente à Presidência da República do Brasil, enquanto não acontecer isso, não podemos ter eleições diretas para Presidente da República. Mas já vislumbramos aí a possibilidade das eleições diretas para a Presidência da República. Coisa que não fazíamos nesses vinte e tantos anos de domínio da Arena e do PDS.

 

O Sr. Kenny Braga: V. Ex.ª permite um aparte? (Assentimento do orador.) O PMDB, evidentemente, não pode se eximir das suas responsabilidades históricas. O PMDB é um partido amplamente vitorioso no Brasil. Nas últimas eleições ganhou praticamente em todos os Estados. Já é majoritário no Congresso Nacional, e, no entanto, nós assistimos à absoluta inanição do PMDB em termos políticos. O entulho autoritário herdado da época da ditadura permanece intocado, Vereador. A reforma agrária desejada por milhares de trabalhadores do campo permanece irrealizada, Vereador. E esta responsabilidade é do PMDB. V. Ex.ª não vai querer tirar das costas dos parlamentares do PMDB, deputados federais e senadores, por não ter feito ainda a reforma agrária e por ter deixado que o entulho autoritário permanecesse intocado. É uma responsabilidade do partido de V. Ex.ª e não do PDT, que é um partido minoritário no Congresso Nacional.

 

O SR. LUIZ BRAZ: Nobre Ver. Kenny Braga, essas eleições do dia 15 de novembro passado devem ser cobradas nos seus resultados daqui a um ano. Porque aqueles que se elegeram no dia 15 de novembro, como é o exemplo do Governador do Estado, Dr. Pedro Simon, esses todos vão tomar posse no dia 15. E aí V. Ex.ª pode dizer. É um governo do PMDB, as soluções do PMDB. Mas, por enquanto, o que V. Ex.ª está criticando é o Congresso. Temos aí a Assembléia Nacional Constituinte, nobre Ver. Kenny Braga. Pode vir até o parlamentarismo ou outras fórmulas. Estas questões é que devemos discutir. Agora, criticar o PMDB por alguma coisa que ele não fez ainda é a mesma coisa que criticar o Dr. Pedro Simon no Governo do Estado por decisões que ele ainda não tomou. Como vamos criticar o seu secretariado se não vimos ainda esses homens em ação. Temos notícias do que eles fizeram atuando em outras áreas, como é o caso do Prefeito de Pelotas, Dr. Bernardo. Ele foi exuberante, um administrador muito bom. Agora, não podemos dizer que na frente da SEC ele vai ter o mesmo desempenho. Daqui a um ano nós podemos realmente criticar estas eleições. Antes disto é impossível, porque estaríamos tecendo comentários em cima de bases falsas, construindo as nossas idéias sobre bases que não são verdadeiras.

Então, todos nós, de todos os partidos políticos, temos um compromisso com esta população que passa fome. Não um compromisso da crítica pela crítica, não um compromisso de enganar pessoas, como foi o caso do PDT nas eleições de 1982, de todas as promessas feitas, enganadoras. E, hoje em dia, coitada da população: chora e achincalha o Prefeito Municipal, sem poder tomar nenhum tipo de medida, porque o que adianta o Prefeito estar administrando, se está administrando mal? Mas é o Prefeito.

 

O Sr. Kenny Braga: V. Ex.ª permite um aparte? (Assentimento do orador.) V. Ex.ª Está atribuindo a fome da população periférica de Porto Alegre ao PDT?

 

O SR. LUIZ BRAZ: Não, Vereador. O que pregou o Prefeito Alceu Collares na sua caminhada, e os parlamentares do PDT, na época das eleições de 1985 – saneamento básico - , o Líder do Partido, que não era o Ver. Cleom Guatimozim, era o Ver. Valneri Antunes, ele disse desta tribuna, estas palavras: de que o saneamento básico nas vilas deveria sair, porque este era um compromisso do Prefeito Alceu Collares. Visite V. Ex.ª as vilas da Cidade e veja onde é que temos saneamento básico. As vilas continuam em situação pior do que no Governo de João Antônio Dib. A nossa população pobre continua tão mal assistida como nos governos anteriores, e a promessa do governo de V. Ex.ª, para chegar até a Prefeitura Municipal, não era essa. Então, isso é engodo. É isso que frustra a população. É por isso que, de repente, chega o cidadão e diz que não acredita no político, porque quando ele vai às vilas, ele vai às vilas, ele prega soluções que realmente não pode oferecer para os problemas que estão criados.

Então, finalizo conclamando todos os Vereadores desta Casa para que formemos um só partido, que é o Partido do Povo. Que as siglas não nos separem. Que nós possamos analisar com os olhos críticos os problemas que são criados, mas não continuar a mesma trajetória do político brasileiro já de há muito tempo, que é apenas a de criar ilusões, de enganar, de iludir, de disfarçar uma situação. Vamos tratar do assunto como ele realmente o é. E eu tenho certeza absoluta de que vamos contribuir em muito para as soluções que hão de vir. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Cleom Guatimozim): Nada mais havendo a tratar, declaro encerrados os trabalhos da presente Reunião e convoco os Srs. Vereadores para a Reunião Ordinária de amanhã, à hora regimental.

Estão encerrados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Reunião às 12h40min.)

 

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